quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Tornado visível.

Há mais de mês e meio que não me registo em palavras escritas. Mas as acções têm sido tantas, tantas, tantas que nem o fim de ano mas vai 'obrigar' a sistematizar em síntese. Aliás o fim de ano não obriga a nada. A tudo me obrigo eu, e here we go again.. quem fala quando digo 'eu'?
Estes seis meses foram um curso bem intensivo. E em muitas coisas parece que regredi. Noutras avancei. Noutras resolvi. Noutras mantive-me. Tudo igual a todos os processos, em suma. Com uma diferença: muito menos negação, mais confrontação interior, alguma aceitação e perdão, também interiores.
Estou muito contente por estar a acabar estes seis meses. E pretendo celebrar o trabalho e as surra que apanhei e que 'entre mortos e feridos' superei.
Porei os sentidos em 2011, alguns já lá estão - ou já o sentem - com mais andaimes interiores, estruturas algumas delas basilares que me faltavam, e quanto me faltavam... Estarei ainda em processo iniciático.
Mas estarei.
A Sombra continuará a manifestar-se, e a fazer o que é suposto: manter-me escuro o caminho que percorro passo a passo para o ir iluminando a cada um que dou. Presentes dados e vividos no Presente, nos interstícios da Sombra.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Pequeno milagre.

Entrei no restaurante. 

Só havia uma mesa para dois, no centro da sala. Todas as outras estavam ocupadas por gente que fazia o seu almoço de feriado. Assumi o  centro da sala, indistinto no meio do todo.
Pedi o normal. Sorria, cansado da viagem a conduzir e olhando de vez em quando para o televisor obrigatório, lembrando momentos íntimos e intensos do fim de semana passado em Lisboa. 
Chega o almoço e começo a comer.
De repente, à frente do meu olhar mas atrás da minha atenção, entra um sujeito pedindo esmola. Vestia verde, uma sweat com capuz.
Fingi não o ver, mas assistia às várias negas que as pessoas lhe iam dando. Pensei que os responsáveis pelo serviço o deviam encaminhar à porta e livrar-nos do constrangimento da presença do homem. Pensava ao mesmo tempo que assim que ele chegasse perto de mim lhe negaria a esmola, e esperava que ele não se detivesse muito tempo a importunar-me o almoço.

De repente, no fundo na minha mente, oiço claramente: 'entrou a tua oportunidade'.

Foi-se aproximando de mim, gradualmente, mesa a mesa. Quando finalmente me olha, faz um gesto de que quer comer. Não me pede esmola, como esperava. Pede-me com o gesto da mão à boca. 
A minha reacção? 

'Queres uma sopa? Senta-te', e indico-lhe a cadeira à minha frente. Sinto uma vibração geral no restaurante.
O rapaz senta-se. Dou por mim a pensar: 'uma sopa? uma sopa? ofereci-lhe uma sopa e estou a comer filetes, destacando peixe da massa que o cobre, porque não quero engordar, apesar de cometer as maiores alarvidades em privado?'

Chamo o sr. A, empregado de mesa. Pergunto ao rapaz: 'queres uma francesinha?'. Ele acena que sim. 'E mais um fino sr. A'. Sr. A, sem me olhar, sorri.

O rapaz está ali, à minha frente. Sinto o embaraço da comunicação, mas caramba é uma pessoa!! Começo a falar com ele e a sensação é a de total tranquilidade. 'Um barraco muito gente' repete ele vezes em conta. Pergunto-lhe de onde é. É dificil a comunicação. Finalmente ele percebe e responde: 'Roménia'. 'Há quanto tempo estás cá?: 'um barraco muito gente'. 'Que idade tens? Quantos anos?'. O vocabulário referente ao tempo escapava-lhe por completo. 

'Como te chamas? Eu sou João'. 'Christe', respondeu. As lágrimas verteram-se-me para dentro e a voz que me avisara da oportunidade, sorri.

Continuei a tentativa de conversa, infrutífera. Só conseguiu adiantar, mostrando-me o pé descalço: 'operaçon, operaçon'. Todo o tempo o sobreolho franzido e a sonoridade chorosa, à frente dum olhar castanho cheio e redondo.
Chegou o fino e o olhar ainda mais de abriu. Gesticulou: 'para mim?'. Acenei que sim. Bebeu com contenção. 
Ainda adiantou que passa o tempo a pedir, mas que não rouba. Eu levantei ambos os meus polegares e dei-lhe um grande sorriso, que percebi estava presente e constante.
Sentia-me de vez em quando olhado pela população do restaurante que, depois duma tensão inicial, retomou a normalidade das suas refeições.
Terminei de comer, mas ainda esperava a francesinha. Paguei porque tinha que ir trabalhar e receava chegar atrasado. Percebi que o que pedira para ele somava mais que a minha própria refeição. Fiquei feliz por esse facto.
Tentei retomar a conversa mas o português do Christe tinha-se esgotado e ele entretinha-se, no seu lado, sem ocupar mais espaço que não o do seu corpo, a ver a televisão. A páginas tantas, na novela que passava, um grupo de homens empunhava umas armas. Ele, apontou para a Tv e fez o gesto do empunhar duma arma, com ar assustado. Tentei perguntar pela família, pela idade, mas não consegui fazer-me entender. Contudo, Christe, gradualmente mais tranquilo, tira finalmente o capuz e expõe a sua cabeça e cara totalmente. Eu sorri-lhe. Ele retribuiu. 

Paga a conta, considerei ir-me embora, mas senti que não podia fazê-lo sem me assegurar que a refeição lhe era entregue, e assim fiz. 
Esperei. 
Esperei. 
E a voz dentro de mim, silenciosa, fazia-me sentir o seguinte: 'sente este tempo de espera. sente-o. não te envergonhes. sente o tempo'

Nisto, uma senhora, que já eu reparara estar a levantar-se, a fechar a carteira e a despedir-se de outras pessoas noutra mesa, dirige-se a mim: 'parabéns pelo seu gesto' diz ela. E olha para o Christe. Desarmado, respondo: 'obrigado, muito obrigado'.

A minutos da hora de inicio de ensaio chega a francesinha. Olho para ele, toco-lhe no ombro e despeço-me. Agradeço ao sr. A e peço-lhe que olhe por Christe enquanto termina.

E saí do restaurante.

(há poucos dias tinha-me perguntado a mim mesmo, surpreendido por uma situação em que um homem estava estatelado no chão, mas que outras pessoas já tinham providenciado o telefonema para a ambulância, e noutra ocasião em que eu poderia ter agido para ajudar um outro ser humano, perguntara-me, dizia, quando estaria preparado para deixar o meu coração agir. 'entrou a tua oportunidade'. O meu dia seguiu como normal. Mas teve, pela primeira vez na minha vida, um momento raro, um pequeno milagre.)

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

A cadeirinha com o encosto rasgado.

'Karma é uma emoção mal resolvida no passado', ouvi Nadia Grazina afirmar no Sapo Zen, da Heloisa Miranda.

Dou por mim, acordado à 4h30 da manhã.. Não me apetece escrever, mas preciso. Não me sinto com estrutura lógica suficiente para que as palavras saiam coerentes, e dá-me uma preguiça... e tenho tanto a acontecer..

Este fim de semana fui a Ceide, São Miguel. Casa da Camilo Castelo Branco.

Foi lindo. Fui, com o meu querido amigo N, que me pareceu, já desde que o conheci há dois meses, a pessoa indicada para me guiar a um destino que há muito queria ter visitado. Ainda em Fevereiro quando dava uma formação em Guimarães, passava várias vezes, na auto-estrada, pela saída de Ceide, e de todas essas vezes me apetecia ir visitar a casa de Camilo.

Eu nunca li uma linha escrita por ele. Sempre me escapuli a lê-lo. Nem sequer o Amor de Perdição. Li Herculano, Eça, Dinis, Garrett.. Nunca Camilo. Nunca me apeteceu. Também nunca fui um leitor fiel. Por isso sou muito ignorante das experiências dos outros. Os livros que li, alguns bem inusitados, ou mos forçaram a ler (e eu sempre fui muito cumpridor das minhas obrigaçõezinhas impostas) ou me apareciam à frente dos olhos e tornavam-se inevitáveis.

Ora, este sábado de prenúncio de tempestade de Outono, chegámos a Ceide depois de almoçarmos em Famalicão, onde e apaixonei por uma loja de roupa como nunca me tinha acontecido! Quando chegámos deparámo-nos com o Centro de Estudos e com a casa de Nuno, um dos filhos de Camilo.

No Centro de Estudos fomos recebidos pelo segurança e a sra responsável pela Casa, que fumavam: fomos os únicos visitantes desses dia.

No auditório do Centro apeteceu-me de imediato cantar e organizar um recital..

Olhei para alguns objectos de Camilo, pessoais, pinturas, serigrafias, quinquilharias! ao meu olhar de desdém..

Quando finalmente passámos o portão de entrada para o terreno da Casa, tive uma visão de carros de bois, e carruagens, que já tinha tido no caminho, enquanto guiava.

A entrada da Casa e a própria são duma beleza comovente. A Casa Amarela. De imediato se vê a 'Acácia do Jorge', uma árvore esplendorosa que protege a casa filtrando-nos o olhar do impacto directo com ela. Um véu que só transpira ternura. Disse-me N que o Jorge, segundo filho de Camilo e Ana Plácido, se empoleirava na Acácia a tocar flauta transversal..

Fomos recebidos pela Dª C que nos fez a visita guiada aos dois, um privilégio. Ao entrar, de imediato pergunto se as cartolas expostas no bengaleiro eram originais. Dª C explica que não: alguns objectos são-no, outros são meros móveis adquiridos para reconstituição da época. De imediato se fala no incêndio de 1915, quando já ninguém lá morava, ao qual, por isso, os móveis tinham sido poupados. Ainda assim só alguns eram originais..

Senti o desafio de saber distinguir quais os objectos reais e quais os cenográficos, como num exercício de intuição. Quando entrámos na sala de estar a minha mão vai directa a um canapé, como se precisasse de apoio. Contemplo a sala e tudo me parece limpinho demais, muito arranjadinho.. consequência dos restauros. O relógio de pêndulo era da casa. Não lhe dei importância. Às tantas olhamos para os retratos dos filhos de Camilo: Nuno, Jorge.. e Manuel, que Camilo tratou como um filho, facto que gerou a suspeita de paternidade, mas que não senti que o fosse, pelas distintas características fisionómicas com as feições dos outros dois..

Homem filho da puta! Fodeu que se fartou; desenterrou o cadáver duma ex-namorada com um amigo médico, manteve-as debaixo da cama e preservou o crânio (supostamente um exercício macabro de dissecação médica); órfão, filho de mãe incógnita; criado por tia que lhe quis roubar a herança em miúdo;  dívidas a toda a gente, degraças, desgraças, desgaças... nossa mãe do céu, que vida de cão!

Afirmei: 'mas não foi nesta sala que se matou!' Tinha sido, e Dª C mostrou-nos a cadeira. Nada daquilo me fazia sentido, pensava que a cena tinha ocorrido noutra divisão mais para o interior da casa.. mas não, tinha sido ali. O médico tinha visitado o casal, diagnosticado a cegueira inevitável a Camilo, um das consequências da sífilis, e, enquanto Ana acompanhava o médico à porta, Camilo decidiu dar um tiro na cabeça. Ouvido-o, ambos regressaram, deitaram-no no canapé (onde me tinha apoiado assim que entrara na sala) e aí o homem agonizou até morrer.

Jorge desenhava, para além de tocar flauta. Era esquizofrénico e morreu com 36 anos.

Nuno, foi para o Brasil, casado de conveniência pelo pai com uma filha dum comerciante rico.. a rapariga viria a morrer aos 19 anos. Nuno esbanjou tudo o que pôde. Regressou, casou de novo, teve um rol de filhos que deixou na penúria. Aliás toda aquela gente era desvairada, com um pai daqueles..

(Quase paniquei ao olhar os seus retratos e ao saber dos seus nomes, mais o de outra filha, que Camilo só mais tarde na vida reconheceu como sua. Patrícia. Paniquei porque aqueles nomes induziam-me amigos que conheço, para mais com semelhanças fisionómicas com os retratos..)

Bom, vimos a cozinha, os quartos dos filhos e de hóspedes, subimos ao primeiro andar e entrámos no escritório dele. Aí senti uma imensa familiaridade, apesar de tudo continuar a parecer estupidamente limpinho.

A secretária, os recipientes da tinta, a lamparina, o banco alto onde se apoiava para escrever - ele escrevia quase de pé.. como outros, foi-me dito. Fotos dos amigos mais chegados: o médico Ricardo Jorge, vibrou-me no olhar - lembrei que desde miúdo, quando passava pelo Instituto Ricardo Jorge em Lisboa, me sentia inexplicavelmente atraído pelo nome..

E chegámos ao quarto.. A parede tinha sido deitada abaixo por Ana Plácido para poder atender a Camilo na doença (os quartos eram separados, originalmente). Enquanto se explicavam os pormenores vários, e o meu olhar diambulava pela divisão, sem querer, dou por mim a perguntar por uma cadeirinha, na penumbra. Era de madeira, com assento e encosto em palhinha. A Dª C explica então, com olhar revelador dum certo espanto por eu ter antecipado surpresa da revelação, que a cadeira era dele e que o encosto tinha sido rasgado deliberadamente para ser mais confortável à pequena corcunda/chaga que Camilo tinha nas costas, da doença.

Senti uma imensa afeição pela cadeira, para mim, o objecto mais querido da casa. Senti-o como fonte de imenso alivio.. Era minúscula, mas também a criatura tinha 1,60m! Comecei a tirar fotografias: a cadeirinha com o encosto rasgado..

Seguimos ao quarto de Ana Plácido, depois à casa de banho. Aí, uma banheira aquecida a brasas chamava a atenção, mas o que me intrigou foi o armário. Dª C não costuma abri-lo, mas fê-lo para nós. Revelaram-se alguns objectos pessoais: uns botins atraíram-me o olhar, eram de Plácido, com um vestido, mais uma casaca duma amigo e duas caixas. Dª C fez suspense: 'quer saber o que tem esta caixa?'. Antes de dar a resposta, e porque a primeira coisa que eu tinha perguntado quando entrara na casa tinha sido pelas cartolas, ela mostrou-nos o que não costuma mostrar a ninguém: uma cartola de Camilo com as iniciais no forro. Tinha estado em exposição até ser vandalizada e cortada de lado por alguém dum grupo de alunos duma escola em visita de estudo. Apesar da raridade do momento, a cartola não me fez sentir nada..

Descemos à zona da antiga adega, agora espaço museu e merchandising. Mais objectos: os óculos de sol, bizarros que lhe protegiam a vista sensível, da doença. Um medalhão de Ana com a foto de Camilo e de outro homem: sensação de ciúme, imediata! O nome dele, conhecidíssimo, não o quis memorizar. Tinha o estranho hábito de fazer bolinhas de papel de jornal e colocá-las numa taça, em exposição, por sinal. No dia anterior a esta visita, dia 1 de Outubro, fez 150 anos que Camilo foi preso, por causa do processo Ana Plácido..

Regressámos ao andar de cima e tirei mais fotos. Despedimo-nos. Fotografei a casa. Uma 'tampa redonda' no chão, que me chamara a atenção antes de entrar na casa, voltou a fazê-lo: parecia o que teria sido um poço..

E de novo a Acácia do Jorge... uma imensa ternura..


Apesar das pequenas catarses de choro e de 'pequenos' ataques de pânico que tive como réplicas da visita, mais tarde durante a noite, fui ver com D, o 'Comer, Rezar, Amar' que a minha amiga M tencionara comprar (pela internet) para ir ver em Lisboa, e que, por engano, comprou para o Arrábida, tendo acabado por me oferecer os dois bilhetes! Depois de vários choros durante o filme (lindo, por sinal, e que tanto me lembrou a minha própria viagem à India) tive uma longa e maravilhosa conversa com D da qual saí com a mais mágica sensação de Bliss que já tive em toda a vida (que devia ser também do 'high on sugar' das pipocas!).

Um dia encantatório e mágico.

Um exercício de sensibilidade intuitiva parece-me ser a conclusão mais lúcida e verdadeira desta visita.

Dar-me-ia por muito satisfeito se conseguisse conhecer a fundo.. o João.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Super-Egóis da Sombra!

E vivam os Super-Egóis, que nos espelham os medos e a 'desnecessidade' do nosso Eu super-egóico, mostrando-lhe o que não quer ver, e que, como tal, quer de impulso ESMAGAR!! Os Super-Egóis são nossos amigos (entoação Isabel Alçada) e salvam-nos das forças do mal - neste caso as nossas próprias, interiores! Vivam os SUPER-EGÓIS!! (expressão inventada em brainstorm com o meu amigo FB, Rui Santana!)

terça-feira, 21 de setembro de 2010

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Contorcionismo Interior

Dou por mim muito longe de mim. Percebo que estou à voltas, contorcendo-me internamente, a tentar encontrar uma forma de ser que agrade a um outro ser. (Como se eu pudesse saber o que de mim agrada ao outro. LOL). Um esforço de adaptação plástica interior, mental, mutante.  Como já fizera há um tempo, não muito distante. A grande diferença é que, agora, e no entretanto, afeiçoei-me a mim. E o esforço da contorção, apesar de ter existido por umas horas, morre à nascença.

A Sombra sorri. Puta!

:)

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Como setas a indicar direcções diferentes...

... assim me sinto. Quando uma se demarca das demais vou atrás dela. Depois sou cruzado por outra que indica nova direcção. Confortável neste novo caminho, sou trespassado por nova e sigo-a.

Assim está o meu interior. As setas são pensamentos. E furam-me como as de Sebastião. A Sombra ri-se à gargalhada com o glamour que construo para a esconder, nas palavras que aqui vou 'escatologizando'. Não quero. Mas faço-o.

'Viagem?.. o carélio!' Ela não se incomoda nada com as viagens que faço para me construir como ser de enigma, de profundidade espiritual, de conexão quântica..

'P'ó carélio!' - repete! 'Tanta metaforização do podre! Ahahahahah! O podre é para ser mostrado como é, não como nos é mais fácil ou mais sedutor..'

Eu intervenho: 'Certo, mas não me queres destruir pois não?, queres curar-me...'

A Sombra cede. 'Viaja quanto precisares, mas não te enganes. Eu estarei aqui para te ir lembrando. E sabes bem as ferramentas que uso para to lembrar..'

A ameaça quer soar pedagógica, aos meus ouvidos..

Dramalhão!

Viagem

Falava.. a custo. A tentação do discurso organizado e seguro, demonstrador do meu controlo sobre a vida, tentava furar, mas a minha voz recusava-o. Para tal me tem valido o cansaço e este estado exangue. Tendo assuntos emocionais para falar, não conseguia deixar de sentir o embaraço da exposição dessas 'insignificâncias', e isso perturbava-me o espírito. O que é certo é que a outros assuntos a minha Voz recusava-se a dar voz. E, assim, entre estas vontades opostas, permanecia calado. Ou.. mais ou menos calado, em balbucios trémulos, estilo bolhas de ar a explodir no magma. Senti claramente que, a avançar com aquilo, só teria voz para me expor. Para dizer e falar das 'merdices'. Dos sentimentos. Bom, aceitei. E o silêncio começou a ser quebrado. Era o tempo de antena da Sombra. Ou lhe dava voz ou sairia dali com uma sensação clara de frustação e cobardia. Dei-lha.

Comecei a falar dos 'nadas'. Dos meus silêncios mal interpretados pelos outros; das desconsiderações que me sentia alvo; dos encontros 'mágicos' que pedira à vida e que ela tinha tido a ousadia de me dar, donde eu agora não sabia o que fazer com aquilo; dum telefonema para encontro que me prometeram e não cumpriram; duma ida à praia em que dormi enquanto todos os outros falavam; do 'p'ó caralho' que textei; do site de engate.. A Sombra, no seu esplendor. O meu 'eu' no e do momento.

A sorte é que, em mim,  o juízo de moralidade mora ao lado! A culpa não.. infelizmente. Por isso me desafiei a dar voz à puta da gaja, a Sombra. E tenho-o feito pouco, aqui.

(Agora que começo a ser lido, e depois de ter sido recomendado, sinto-me ainda mais exposto. Não faço disto 'bicha de sete cabeças' - esta bicha só te uma, duas vá! - mas mói. Quem me ler terá que ser compreensivo. Ou livre de não me ler!)

Estava eu no meu relato intermitente dos 'pequenos nadas' que saiam muito a custo, apodera-se de mim uma sensação física. Tinha sido precedida duma outra que me assegurava tenuamente de que tinha tomado o caminho certo na sessão: preterido o discurso racional e aventurado no inconstante emocional.

Fechei os olhos, em automático.

A sensação era de fondue de queijo, como se o meu corpo fosse comprimido do seu tamanho para dentro, mais pequeno e compacto, e deixasse fios de queijo no caminho. Esse 'mais compacto' assumiu duas formas que se alternavam: feijão e crisálida de libélula. Alternavam e rodavam em eixo, qual galáxia. Ficou assim um tempo. Depois saiu de mim, em bébé, aninhado numa flor de lótus, com o caule a ficar para trás. Embarcou  num túnel cósmico e saiu num céu azul, que deu lugar ao espaço sideral. Lá ia a criancinha toda contente no seu colchão de lótus quando, de repente, em vez de se direccionar à luz (como intimamente desejava e esperava) entrou num espaço negro, viscoso, qual petróleo. Nisto, para minha estranheza, também esse escuro começa a girar e regresso à sensação de corpo. Sinto de novo o meu olhar, se bem que ainda de olhos fechados. Sinto do negro da imagem o negro por detrás das pálpebras, desta feita com fumo, também ele em giratório. E já sinto o corpo.

Abro os olhos, voluntariamente..


Sensação de 'cenas dos próximos capítulos'. Viagem iniciada, que continuará.

Demoro bastante a regressar à funções físicas de equilíbrio.

A Sombra em teasing..

Agora que escrevo, apetece-me beijá-la.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

António Rosa

Toda  a minha vida sonhei, com mais ou menos consciência, encontrar e conhecer um Mestre. Esta noção íntima, mas também aprendida, daquele 'outro' ser humano, com uma visão alargada e perspectivamente distanciada da existência, do mundo, das pessoas, das relações, do Conhecimento.. Uma pessoa orientadora, essencialmente.. Sempre senti falta de orientação. Mas duma que encerrasse em si aquela qualidade rara de interesse e distância, para que pudesse dar os meu próprios passos, por mim mesmo. Um sorriso grande donde proviesse sabedoria que me desse a conhecer os fenómenos do mundo e, mais importante, os fenómenos de mim mesmo.

Ora, sempre fui orientado na base do autoritarismo e não da autoridade.

Como aprendi recentemente com outra Mestre - a Professora Doutora Isabel Baptista - Filósofa e Pedagoga (no mais elevado sentido dos termos), a 'autoridade' do Professor/Mestre advém da sua capacidade de 'autoria', do talento de ser 'autor' e não do seu autoritarismo..

Sem querer ser injusto com os muitos pedagagos com que me cruzei na vida, a sensação que me ficou predominante foi a de ter tido recorrentes experiências de autoritarismos pedagógicos. Ora eu, que sempre fui muito submisso e conformista aos autoritários, era um excelente aluno. Percebo hoje que, inconscientemente corroborei os seus métodos com o meu sucesso escolar. Fi-lo sempre no exercício das minhas 'boas intenções'. Mas hoje admiro os meus colegas que se insurgiam contra esses 'ensinos' quer no comportameno quer no (institucionalmente mau) aproveitamento.

Costumo recorrer ao exemplo do meu antigo colega de aula de solfejo, hoje brilhante guitarrista, Joel Xavier, (aqui em Joel Xavier, e em Joel Xavier e Carlos do Carmo). Lembro-me perfeitamente dos responsos que levava pelas suas incapaciades musicais, nas ditas aulas de solfejo. Eu calava e consentia e concordava. Tirava 5's e ia a todas as audições de piano, e hoje ninguém sabe o músico que 'sou'.. LOL! Ao invés,  o Joel tornou-se o exemplo do verdadeiro génio musical, aquele que, ao interpretar, entende a música por dentro, brinca com ela, é levado por ela, sorri com ela, viaja com ela.. Ele mesmo, hoje, um intérprete-mestre..

Ora, eu dizia como, intimamente, sempre desejei conhecer um Mestre. Pois conheci um, recentemente. Um, muito especial: António Rosa.

Fui à Ericeira ter uma consulta de Astrologia com ele saí dela com o meu corpo energético dilatado a um ponto inaudito, para mim!!

Encontrei no António a confirmação da minha intuição, guiada pela nossa amizade no Facebook e pelos brilhantes e hiper-pedagógicos artigos do seu Blog A Cova do Urso.

O olhar carinhoso, ao mesmo tempo distante e observadoramente próximo; o seu sorriso de amigo 'de sempre'; a sua voz profunda e ressoante de sabedoria 'antiga'; o seu aperto de mão de 'ursandade mãe/terra'; a sua franqueza e honestidade cruas e simultaneamente generosas e solidárias; o seu imenso rigor cientifico em osmose com o íntimo sentido de humanidade cósmica; a sua IMENSA generosidade, maturidade e orientação; tudo isto recebi do António, ou seja, em suma, a sua Mestria!

Vêm-me as lágrimas aos olhos, agora, ao escrever, por pensar e sentir a magia que rodeou o nosso encontro, e a cessação daquela horrivel sensação de solidão e isolamento, porque se encontra, depois de tanta espera, um Mestre, e um Amigo.. A vida, de repente, justifica-se! Ainda que não precisasse fazê-lo.. Justifica-se dizendo: 'tiveste de passar pelo que passaste para saberes viver este encontro.. valeu ou não valeu, a espera?' Eu respondo à sua imensa sabedoria com as minhas lágrimas sorridentes.. :) Se valeu!!!

Hoje, o António, que me conheceu há três semanas, acaba de me distinguir com a sua escolha para os cinco Blogs do BlogDay 2010.

As razões de tamanha distinção resumem-se, para o meu entendimento de blogger-bébé, numa palavra: ORIENTAÇÃO.

Como só um verdadeiro Mestre pode dar.

Obrigado, António..

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Odeio o Porto.

Tenho que dar voz à minha Sombra, que me está a consumir: odeio a vida que levo nesta cidade. Odeioooooooooooo . Tudo. Ainda só cá estou 5 dias e já envelheci um ano. Não durmo, tenho a digestão às voltas e já estive mais longe da depressão. Não faço nada com ânimo, apenas correspondo às obrigações. Sinto-me forçado, melhor, sinto-me a forçar-me a mim mesmo, o que é mais grave. Estou em completo desrespeito pelas minhas vontades. Estou ao lado. Tiro na água. Porta-aviões a milhas. Tiro ao lado. Tudo ao lado. Tudo errado. Tudo torto e eu mais mortooo. Foda-se!

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

PÁRA TUDO.

Recebi uma enormidade de sinais e mensagens claras na minha mente. Um monólogo interior cheio de sabedoria e simplicidade. Recebi uma enormidade de mensagens do exterior, graças às quais cheguei ao momento de ouvir o monólogo interior.

Pára tudo. Observa. Sente. Abdica, para receber o novo. Percepções para o novo. Habilitações para o novo.

Modificações feitas custam a desapegar. Estou, de mim para comigo mesmo. Parou tudo. Luto contra a imobilidade. Luto contra o contra. Respiro. Não reprimo: sinto. Dói. Choro. Respiro.

Em loop.

Mais logo vou ao cinema. Para descansar...

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

"Eu sou das flores..!"

Quando a ouvi dizer estas palavras os meus olhos inundaram-se de lágrimas, emoção da ressonância de verdade. És realmente de lá, minha amiga, e como admiro o modo como defendes a integridade da tua proveniência. Obrigado por me avivares a memória, por esta lição.. O Presente é nosso!

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Grande Cruz.

Adoro acontecimentos invulgares. Nisto (e em muitas outras coisas também) sou bastante vulgar. Abandono-me ao 'esoterismo' para sair da pasmaceira. Quando estou entretido a viver não preciso dele para nada e aí sim sou espiritual, porque vivo, e me sinto vivo, ao contrário de quando estou p'raqui, blahh.

Quando o cosmos me dá algo de invulgar aproveito a boleia para blahhhhhhhhhhhhhhhhhh, mas com a sensação de vida.

Amanhã acontece o alinhamento da Grande Cruz Cardinal. Mudanças no interior do ser. Vai doer.

Pressenti o lugar, antes de saber da Cruz, para fugir ao trânsito da Caparica ao fim de semana. Marquei-o. Brejos de Camboja de Cima, resolvi designá-lo.

Ía sozinho, mas agora vou com uma grande amiga, por sugestão de outra grande amiga.

Estas férias, percebi que tinha de receber o convite para avançar nas decisões, contrariando a minha control-freakness panicada de arranjar sempre que fazer. Deixar guiar-me pelos acontecimentos em vez de os provocar e controlar. Estou a ter um sucesso relativo.

O dia de hoje está a ser passado em casa, em molezas. Parto mais logo para Brejos. Estou irritadiço. Mas quebrei decididamente os laços pendentes. Bom. Muito bom.

Acho que me estou a apaixonar... carélio!

A puta Cruz já deve ter começado a sua influência.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Pesadelo.

Um dia totalmente contaminado pela noite, pelos pesadelos da noite. O peso era tanto que, deitado de barriga para baixo na praia, sozinho, sentia o esterno a ser esmagado por mim mesmo.

Não consigo escrever mais. Quando ganhar algum distanciamento, fa-lo-ei.

terça-feira, 27 de julho de 2010

qui tollis peccata mundi..

A Sombra comunica comigo com uma inteligência desconcertante.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Ora bem..

Com este calor, os 'insectídeos' entram pela casa dentro à descarada e 'alambuzam-se' rodopiando à volta da lâmpada me me ilumina o 'ordinator'.

Estou com os químicos corporais 'em saltitantes' e sinto-me 'bóptimo'. Estes 'highs' que malhar o corpo dão são a minha salvação. Hoje também dormi até tarde, depois de ter acordado às 6 da matina com o 'chaleur'..

Todo 'eu' se sente 'up, up and away' e se queda ledo por casa, janelas da varanda escancaradas e ventoinha a bombar.

Não tenho 'nadíca de nada' para dizer, para escrever e, mais interessante, para sentir. À tarde fui às compras, fingi de rica, gastei sem pensar. Amanhã vou à depilação, que uma gaja com este corpo novo e pêlos nas costas não faz 'pendant'. Depois vou tratar da minha 'inner voice', seguida do meu 'inner self'. Agendado também por-do-sol com amiga na praia.

Não faço ideia que farei nas duas semanas de férias seguintes. Provavelmente irei para Lisboa e por lá ficarei.

Não tenho projectos, não tenho vontades específicas, excepto uma ou outra 'excitaçãozinha', e pronto.

Estou um bocado entre aspas, em suma. E é bom.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Cansaço

Estúpido cansaço. Passei o dia derreado. Até os olhos me doem.. Os cigarros deixam-me zonzo. Pensar deixa-me tonto. Ziguezagueio de lá para sei lá onde sem me conseguir mexer. Estou em estúpido. Exausto. Mas com a sensação que tenho de me manter acordado porque espero uma encomenda. Estupidez..

Hoje é daqueles dias em que não devia falar. Não devia escrever. Só render-me ao cansaço.

Mas ainda sou um miúdo à espera das prendas..

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Grupo.

Carélios ma fodam! 'Que tempos estes! Que tempos estes!', como dizia a outra senhora.

Hoje conheci uma data de desconhecidos. Numa sala lúgubre. Luz fluorescente que dava a vez a luz amarela. Heterogeneidade em nuances totalmente novas. Troquei palavras, hesitei, gaguejei.

Centrado; Chapéu de chuva; Helicóptero: percepção da nova alteridade sobre mim.

Todos os palcos deviam ser redondos!

domingo, 18 de julho de 2010

terça-feira, 13 de julho de 2010

Intenso.

Há doses e doses. Talvez esteja a puxar doses a mais. De vida. Mas isto sozinho dói bué.

Há uma hora na esplanada em Matosinhos, enquanto revia o "Pourquoi me réveiller?" para a masterclass desta tarde, uma conversa da mesa ao lado veio ter comigo. Falava-se dos tempos. Como hoje é a vida, como foi. Do tempo em que, na circunvalação não havia casas e como era escuro e sombrio; do tempo em que, a senhora que falava, falava de, catraia, levar uma caixa com vestidos a uma viscondessa e que se, no transporte, a levasse deitada (à caixa) não pagava, mas se a levasse de pé, pagava tanto como uma pessoa; falava-se de 15 tostões, de 90 escudos por semana e da fábrica que abriu depois do 25 Abril e de se ganhar de seguida 3 contos de reis, "muito dinheiro para a altura"; falava-se do episódio da viscondessa: "como o condutor me obrigou a levar a caixa de pé tive de pagar o dinheiro da caixa e fiquei sem nada para regressar a casa e chovia como só Deus. Tive que chorar a pedir dinheiro que estava escuro e não tinha como chegar a casa". Deram-lho. Falava-se da vida de agora. Do filho que começou ao contrário: a trabalhar na Austrália e a ganhar muito dinheiro, e agora, regressado, a ganhar 2 euros/hora. Do irmão dela, que não se lembrava de nada da infância e dela, que se lembrava de tudo.

Quem falava, falava da dificuldade da vida, mas falava com vida. Apeteceu-me abraçar aquela senhora que falava, mas escorriam-me as lágrimas por detrás dos óculos de sol, por detrás das minhas 'orages et tristesses', por detrás do 'ne trouveront plus que deuil et que misère', por detrás da minha vergonha de mão dada com admiração. Lembrei-me da minha tia Mimi, da sua vitalidade.

Quero ser mais como aquela senhora.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Anyone here's a fool?

'Is there anyone here who's a fool?' Ela perguntou. (silêncios interrompidos) 'Come on, there must be someone... Well, I am. Imagine if everyone here would leave with someone else, tonight?.. (risos) That would be funny, right? Well, one thing's for sure, when things go wrong, one day someone ends up knocking at your door: knock, knock (gesto). You open the door and your face opens up in surprise (a cara dela fá-lo): tarahhh! There he is. With a box. Soon you realise that box contains all the stuff you left behind. And he's returning it. So, one thing's for sure for us fools: we always get our stuff back!' - Melody Gardot (+ou- citado, com a memória ainda fresca.. - Porto, 6 Junho 2010 - CdM)

Citações de uma noite de Verão sob ar-condicionado gelado.

'São os meus assombramentos'
'Dificuldades únicas no reconhecimento do nosso próprio retrato e da nossa própria identidade; do retrato que arde'
'Dificuldade de amar; mais a ver com o desejo e complacência da separação'
'Ajuste de contas com estes pesadelos'
'Tudo pode sombrear tudo: dissolução; como no cinema'
'As coisas devem emergir, entrar e sair, cruzar-se com elas, ecoar, regressar'
'Esbatimento da fronteira'
'Gosto muito de brincar com os opostos'
'Tenho prazer no musical'
'Melancolia das Variedades'
'Tudo o que brilha, brilha muito, como nos reclames dos dentífricos'
'Ir saltando de estilo em estilo e ir fazendo convergir as coisas'
'Tema recorrente: os olhos e as mãos'

Tudo de RP. Para mim, de PR, também.

Citações sobre um espectáculo? Citações sobre uma vida. Sombras.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Gute Nacht.

Gute Nacht(Muller/Schubert)

Good Night 
I came here a stranger, 
As a stranger I depart. 
May favored me 
With many a bunch of flowers. 
(...)
I cannot choose the time 
To begin my journey, 
Must find my own way 
In this darkness. 
A shadow of the moon travels 
With me as my companion, 
And upon the white fields 
I seek the deer's track. 
Why should I stay here any longer 
So that people can drive me away ? 
Let stray dogs howl 
In front of their master's house; 
Love loves to wander - 
God made it that way - 
From one to the other, 
My dearest, good night! 
I don't want to disturb your dreaming, 
It would be a shame to wake you. 
You won't hear my step, 
Softly, softly the door closes ! 
I write in passing 
On your gate: Good night, 
So that you may see 
That I thought of you.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

fraquinho..

Cada vez admiro mais e me admiro mais com as pessoas que, afincadamente, se dedicam a construírem-se, na identidade, nos gostos, na derradeira diferença, para poderem afirmar-se ser - o que é completamente legítimo - e, muito convenientemente, também, para se constituírem como objecto de desejo - algo ainda mais legítimo, provavelmente, que o anterior. eu é claro, também o faço. só que um bocado p'ró fraquinho.. Mas em compensação, mal.

Sombras.

Como se me visse a mim mesmo num espelho.
- Procurai nestes retratos, e dizei-me se algum deles pode ser.
- É aquele. 
- Minha filha, minha filha, minha filha!... Estou... estás... perdidas, desonradas... infames! Oh! minha filha, minha filha!...
- Romeiro, Romeiro, quem és tu?
- Ninguém! 

domingo, 4 de julho de 2010

Regresso.

Depois de uma semana a pensar na vida, e a sentir as coisas em demasia, regresso, com novo nome. Para já, é só mesmo o que sou capaz de fazer.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Something.. not so good.

E, mais uma vez, fiz merda. Isto está a tornar-se repetitivo. A Sombra avisou-me e eu hesitei. Hesitação, em terra de gente muito rodada, quer dizer: tanso! E pronto. Sou-o. Bem jogado, do outro lado. Mais uma lição aqui p'ró menino!

segunda-feira, 21 de junho de 2010

O Efeito da Sombra.

The Shadow effect: aqui está, mais ou menos bem descrita. Com alguns comentários infelizes, como o do Deepak Chopra, que associa a homossexualidade a pedofilia.. Enfim.. deve ter sido a Sombra dele a falar..

Ainda assim, estes são os objectivos deste território virtual. Olhar para dentro. Prescindir da máscara, da personna, abraçar o meu lado reprimido e que me tem consumido.

Como hoje estou particularmente cansado, tenho medo de me expor. Mas bem preciso.

Tenho pele velha, que já não me leva a lugar nenhum, a não ser ao mesmo de sempre, do passado que eu já não quero ser. Mas o medo dessa abdicação faz-me manter ainda agarrado à pele já a cair, e recear muito a pele frágil que se constitui em seu lugar. Largar os padrões antigos.

A vida tem-me dado prendas maravilhosas. Incentivos à mudança. Mas a minha Sombra exige-me que olhe mais para dentro, pois ainda não estou preparado para ser o novo que quero ser. Ainda me agarro, com medo da rejeição, aos padrões que me rejeitam. Conscientemente desprezo-os, revoltam-me, metem-me nojo: prova, portanto, que ainda fazem parte de mim. Quando forem só constatações da realidade do mundo e eu for capaz de a observar apenas, estarão resolvidos. Enquanto me irritarem, me ferirem o ego, o sentido de mim; enquanto o outro for ameaça e eu persistir em erguer muros de protecção contra os seus ataques (quando na verdade as muralhas que ergo são para conter em mim o que não quero que mais ninguém saiba) - estarei a perpetuar-me no tempo nos padrões de repetição de sofrimento.

Quero reconhecer a minha Sombra, convidando-a a ter a minha atenção. Por isso continuo aqui, agora, com pessoas a lerem-me, falando para ela, sob o olhar de outros. Exercício de exposição mas também de exibicionismo. Os perigos são muitos. São da Sombra. A ver se me aguento à bronca.

domingo, 20 de junho de 2010

Arritmias do ser.

Holyfuck, Sombra.. Holyfuck!!!!

Prenda em mãos.

Heart's a mess
... and I said yes!

I must have done...

... something good.


Quando a música me surpreende, do nada. E quando volta a fazê-lo. Como beijos no timming  certo..

Estandarte.

Eis-me chegado aos 36 e feliz. Feliz.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Interlocutor, out.

E assim se contaram duas semana. De virtual. De palavras a mais. De engano final.


Estás no Porto. Planos de ir passar fim-de-semana a Lisboa. Foste esmagado como uma formiga. 


Estou tão sereno, que nem acredito. 


João out.

Ciúme.

Tenho andado um caco. Não durmo, como mal e a más horas. Ando obcecado e obsessivo com o trabalho e com outras 'situações' muito dentro de mim. Como se não fosse suficiente, tenho os nervos em franja e qualquer merdice me tira do sério. Estou irascível, impossível!

Por dormir mal, pensei que tinha um acidente ainda hoje no regresso ao Porto, de tão cansado que estava depois de 4 horas consecutivas a trabalhar.

Com todas as minhas alterações de humor e algumas queixas, lá me deram um comprimidinho para as ansiedades que tomei assim que cheguei a casa. Mas não antes de, acometido por mais um rasgo de ciúme, ter decidido afastar da minha vista um 'casalsinho irritante do FB' inventado pelo dito cujo ciúme.. Tencionava fazê-lo inocuamente, sem ninguém dar por nada, ocultando-os. Activei o bloqueador, que me avisou que vetaria qualquer contacto com  o dito duo. Era o que queria, para poder ter algum descanso e fazer o meu último trabalho. A merda é que, e só o percebi horas mais tarde, não só mos bloqueou como mos desamigou. Acto falhado.

Com um deles estou-me nas tintas, mas como o outro é o meu interlocutor dos posts anteriores, o acto falhado pode vir a tornar-se muito doloroso.

Já o avisei do acontecido. Mas tenho um feeling, para meu grande temor, que a coisa se fodeu de vez.
Logo agora, que parecia estar a começar.. e que só havia uma palavra ainda por dizer.. que o gelado já pingava..

Valha-me Flaubert, que espero que me perdoe..

terça-feira, 15 de junho de 2010

Heurística sensorial.

Tenho andado a constatar que, a cada dia que passa, a base da minha percepção da realidade está a alterar-se. Tenho flashes de imagens na minha cabeça que se sobrepõem à imagem real, sem no entanto perder esta do primeiro plano. No decorrer duma conversa, geralmente enquanto escuto (e não o contrário), salta-me à visão uma imagem completamente descontextuaizada do que se fala. Acredito ser percepção e não construção da minha própria imaginação porque tenho que recuar, literalmente, para observar.

Vi isso numa conversa recente com uma amiga. De repente, não pelo que ela dizia (mas talvez por causa do que as suas mãos faziam), à minha frente estávamos os dois num intenso entrelace sexual. A intensidade era tal que, aliada à surpresa, me fez recuar na cadeira. Por segundos observei, questionei, rejeitei, senti e terminei. Esta parte deixou-me tranquilo. Quando, na minha mente afirmei: pára!, parou. Não sei que expressão seria a minha, mas não notei grande diferença no seu olhar, por causa do meu.

Hoje ao almoço, com um amigo que conheço muito bem e que começou uma relação recentemente, durante o seu discurso, novamente: imagens. A cara dele transmutava-se: por momentos não o via a ele, mas ao outro. Aqui, acredito ser outro fenómeno: o da diferença, do contraste. Conheço-o tão bem, e todas as sua micro-expressões, que percebi, em vez delas, o contágio da novidade do outro. Mas não foi só isso: pareceu-me ver o outro, literalmente. Também nesta instância tive que parar, abrir bem os olhos e recuar. Disse-lhe o que tinha visto. Ele, bem, aí foi ele mesmo!!

Estas transmutações interseccionistas nunca se tinham revelado tão óbvias. Mas não são estas as que mais me perturbam. Talvez porque tenham imagem, e eu lido bem com isso.

As que não consigo processar são as sensações internas, sem imagem tridimensional, mas com informação. As que me parecem acontecer em tempo real, por me sentir ligado a outra pessoa. Não têm substância, não se ouvem ou vêem, sentem-se, muito debilmente mas com muita certeza.

Estas não consigo distinguir se são percepção ou projecção da minha imaginação. E, como tal, tiram-me o centro. Mas só o fazem quando são intensas, como se eu estivesse a sentir o outro, distante; não exactamente o quê, mas a perturbação, não os contornos mas o borrão. Um borrão sensorial, isto é o que sinto. O borrão de gestos começados mas interrompidos; de vontades geradas mas reprimidas; de desejo de comunicação barrado. (mesmo agora, quando escrevo, sinto uma resistência interna a fazê-lo, como se não mo fosse permitido, como se não devesse, mas, ao mesmo tempo, tendo de o fazer, porque o espaço e o tempo entre este post e o anterior está a ser demasiado longo, exasperante! - tenho sensações físicas como o desacelerar da digestão, a leveza da cabeça e a iminência do desmaio, aliados a um lacónico 'despacha lá esta merda duma vez!')...

Sinto-me ridículo. Mas o ridículo é território da Sombra, território heurístico. Tenho que o percorrer.

sábado, 12 de junho de 2010

O miúdo que dava explicações de matemática.

A noite passada, perdi. Porque não sou forte o suficiente para me deixar conduzir pelo tempo. As horas matam-me, como numa canção de Heine que terei de cantar em Julho. Acho que esta batalha com o tempo do amor ainda está no adro. O fantasma omnipresente da rejeição ainda me domina. As instabilidades naturais da vida são-lhe insuportáveis. Se não lhe dão segurança mínima e o que ele quer, assume que não é querido. E mais uma vez, conseguiu que assim fosse.

Da minha perspectiva, estes constantes actos de auto-sabotagem, acabam comigo. Pode ser que o tempo recupere o que se perdeu ontem. Não sei. Do que de mim depende está claro o que precisa ser trabalhado: to go with the flow. Again, isso exige estabilidade do ser. A paixão não ajuda, mas nela se testam os guerreiros. A distância e o contacto espaçado, só pioram. Parte do teste do guerreiro. Chumbei, com o comentário didáctico: és um miúdo.

O que é certo é que acabei por sonhar com ele.

E ali estava: lindo, o miúdo; cinco anos. Com uns olhos verdes. Cabelo escorrido. Olhar doce. Gestos suaves. A explicar o que parecia ser matemática ao outro miúdo: franzino, magro, tímido, muito quieto do outro lado da secretária e um pouco afastado dela, que mal se deixava ver, e que tinha um olhar que parecia saber tudo o que se lhe explicava (ou nada..), mas deixando o outro explicar de qualquer modo. Acho que não era a matemática que ele aprendia. Acho que ele aprendia o miúdo. O miúdo nem se apercebia disso, e continuava, deslumbrante,  generoso, preocupado com o outro, sem o confrontar muito com o seu olhar verde. A cena ficou assim na minha memória, como uma fotografia, a desgastar-se no tempo.

(Eu nunca percebi muito de matemática, apesar de ter sempre as melhores notas. Que explicaria eu, de algo que sei tão pouco?)

O sonho continuou. Lembro-me de meias enterradas na areia e pouco mais. Mas houve mais.



Tenho que continuar a trabalhar para compreender melhor porque panico com a iminência da rejeição, principal tarefa da profilaxia da minha Sombra.

Para conseguir sincronizar-me com o tempo e poder ser um.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Flaubert

Muito recentemente, por causa da trepidação que vivo com o interlocutor do post anterior, apareceu-me na cabeça, de repente, do nada, o apelido do Gustave. Fora a referência ao nome e à Bovary, nunca soube nada dele. Nem li. Nada. Mas o certo é que o pensamento foi: Flaubert.. A intenção ficou, passiva.

Hoje de manhã, em Guimarães, no café do costume, apeteceu-me ler, enquanto tomava o pequeno almoço, para o qual tinha preparado tempo. Coisa pouco usual. Do caixote de livros disponíveis comecei a vasculhar as possibilidades e de imediato um me saltou à vista "O papagaio de Flaubert". Agarrei-o e, uma vez regressado à mesa, comecei a folheá-lo.

Deu-se o bizarro. As minhas mãos começaram por abrir o livro e logo de seguida os meus olhos direccionaram-se automaticamente para determinadas passagens: 'A vida, a vida. Ter erecções'; '(...) que encontrara, desde o rapaz dos banhos egípcios até à menina do bordel'.. Continuaram as mãos em modo autónomo a escolher as folhas a abrir e os olhos a lerem de imediato excertos de aparência coincidental: 'A educação sentimental'; Vitor Hugo; Baudelaire; George Sand; Flaubert, Flaubert, Paris, Flaubert.. os casamentos, os filhos mortos, os muitos amigos homens, a insinuação da homossexualidade, um amigo em particular cujo nome esqueci..'A minha vida é uma necrologia'. Perda, morte, desejo, sexo, palavras, palavras, palavras.. As minhas mãos e olhos continuavam e sabiam o que queriam e onde encontrar. Limitei-me a observar.

Sensação de prazer na descoberta, como a inevitabilidade com que Flaubert supostamente afirmava: 'não escrevo. sou escrito'. Associação interna de ideias e conclusão inevitável: a insolente comparação de, pelo menos, duas destas figuras com pessoas recentes na minha vida. Comparação instintiva: Flaubert - o meu interlocutor parisiense. George Sand: a única pessoa que comenta este blog.

E eu? Quem seria eu ali no meio? Não percebi. Mas a sensação de analogia remeteu-me para um tempo de estimulo e de paixão pela vida. Por momentos senti a potencialidade das reencarnações, senão literais, pelo menos arquetípicas.. A semelhança nos turbilhões emocionais das suas vidas. A semelhança das Sombras..

'A educação sentimental': requisição de leitura da minha Sombra.

domingo, 6 de junho de 2010

Dia suspenso.

"depois de me levantar muito cedo e de dormir muito pouco, e de passar o dia sem conseguir percepcionar o 'real' por causa do medo de 'o' não ter tido contigo, caí exausto no chão da sala num sono também exaurido, mais ou menos pela mesma altura em que acordaste..

como o meu chão quer já, irracionalmente, ser o teu, devo ter adormecido com o pingar dos teus beijos.

ainda estou a tremer, agora ao ler-te, estremunhado, com dificuldade em voltar a estar em mim, que grande parte já voo para aí.. em total irreverência pela minha autoridade.

pinga regularmente neste email, enquanto não o fizermos com a voz, os beijos que suamos um para o outro, só para que se me não trema o 'real' em demasia.. peço-to.

para que quando chegar o dia 3D, as nossas almas possam recoincidir naturalmente com os nossos corpos.

Beijos livres - de que não te livras também - que te querem."

sábado, 5 de junho de 2010

Resistência.

Está a ser difícil começar isto. Estou a forçar-me. E eu sempre fui gajo de diários, registos, notas para mim mesmo. Tenho alguns cadernos com isso pelos armários: dos moleskins aos de inspiração oriental.. Mas perdi o hábito. E blogar sempre me pareceu um conceito estranho. Mas como este é novo e ninguém conhece, pode ser que por uns tempos seja só meu, e portanto, me dê tempo para me ir habituando.

A ideia de o abrir é-me relevante. Sexualidade. Homossexualidade. Lidar com espaço interior, onde resido eu e a minha Sombra.

A minha Sombra. A ela dedico este território. Para sua expressão: para a sua profilaxia. Da origem das pulsões vitais, que normalmente se associam ao negativo em nós. Das pulsões que, por reprimidas, crescem em intensidade até explodirem e rebentarem connosco.
Tenho aprendido na prática (porque na teoria é fácil), e nos tempos recentes, que o que associamos ao negativo de nós pode muito bem ser o que de mais positivo temos. Mas porque incompreendido é temido. Temido, reprimido. Reprimido, fodido.

Ora eu quero ser fodido. Mas não por mim próprio. Que disso, já chega!

Daí este diário. Que vá servindo para dar voz à minha Sombra, se for capaz. Esta, que agora escreve, não é ela. Mas ela está atenta e desconfiada. 'Pode ser bom demais', pensa. E pode ter razão.

A ver se tenho tomates. Para que ela seja eu, e não outro - estranho e beligerante.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Aberto

Não curto Bloggs. Tinha de ter um. Ainda não sei que se passará neste território. A ver.