Muito recentemente, por causa da trepidação que vivo com o interlocutor do post anterior, apareceu-me na cabeça, de repente, do nada, o apelido do Gustave. Fora a referência ao nome e à Bovary, nunca soube nada dele. Nem li. Nada. Mas o certo é que o pensamento foi: Flaubert.. A intenção ficou, passiva.
Hoje de manhã, em Guimarães, no café do costume, apeteceu-me ler, enquanto tomava o pequeno almoço, para o qual tinha preparado tempo. Coisa pouco usual. Do caixote de livros disponíveis comecei a vasculhar as possibilidades e de imediato um me saltou à vista "O papagaio de Flaubert". Agarrei-o e, uma vez regressado à mesa, comecei a folheá-lo.
Deu-se o bizarro. As minhas mãos começaram por abrir o livro e logo de seguida os meus olhos direccionaram-se automaticamente para determinadas passagens: 'A vida, a vida. Ter erecções'; '(...) que encontrara, desde o rapaz dos banhos egípcios até à menina do bordel'.. Continuaram as mãos em modo autónomo a escolher as folhas a abrir e os olhos a lerem de imediato excertos de aparência coincidental: 'A educação sentimental'; Vitor Hugo; Baudelaire; George Sand; Flaubert, Flaubert, Paris, Flaubert.. os casamentos, os filhos mortos, os muitos amigos homens, a insinuação da homossexualidade, um amigo em particular cujo nome esqueci..'A minha vida é uma necrologia'. Perda, morte, desejo, sexo, palavras, palavras, palavras.. As minhas mãos e olhos continuavam e sabiam o que queriam e onde encontrar. Limitei-me a observar.
Sensação de prazer na descoberta, como a inevitabilidade com que Flaubert supostamente afirmava: 'não escrevo. sou escrito'. Associação interna de ideias e conclusão inevitável: a insolente comparação de, pelo menos, duas destas figuras com pessoas recentes na minha vida. Comparação instintiva: Flaubert - o meu interlocutor parisiense. George Sand: a única pessoa que comenta este blog.
E eu? Quem seria eu ali no meio? Não percebi. Mas a sensação de analogia remeteu-me para um tempo de estimulo e de paixão pela vida. Por momentos senti a potencialidade das reencarnações, senão literais, pelo menos arquetípicas.. A semelhança nos turbilhões emocionais das suas vidas. A semelhança das Sombras..
'A educação sentimental': requisição de leitura da minha Sombra.
Continuo indecisa se isto foi um elogio ou uma forma simpatica de me dizer para deixar de cá vir ou pelo menos de comentar. Como sou um bocado lerda se for para isso tens de ser mais directo.
ResponderEliminarJá não é a primeira vez que depreendes o negativo nos meus comentários.. Temos que falar.. Não pode ser mais positivo, mágico e providencial.. A figura encaixa-te na perfeição, mas tu supera-la, porque és muito mais luminosa. ;))))) (quero acreditar, que eu nunca conheci a Sand.. pelo menos não me lembro..) ;)
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