Falava.. a custo. A tentação do discurso organizado e seguro, demonstrador do meu controlo sobre a vida, tentava furar, mas a minha voz recusava-o. Para tal me tem valido o cansaço e este estado exangue. Tendo assuntos emocionais para falar, não conseguia deixar de sentir o embaraço da exposição dessas 'insignificâncias', e isso perturbava-me o espírito. O que é certo é que a outros assuntos a minha Voz recusava-se a dar voz. E, assim, entre estas vontades opostas, permanecia calado. Ou.. mais ou menos calado, em balbucios trémulos, estilo bolhas de ar a explodir no magma. Senti claramente que, a avançar com aquilo, só teria voz para me expor. Para dizer e falar das 'merdices'. Dos sentimentos. Bom, aceitei. E o silêncio começou a ser quebrado. Era o tempo de antena da Sombra. Ou lhe dava voz ou sairia dali com uma sensação clara de frustação e cobardia. Dei-lha.
Comecei a falar dos 'nadas'. Dos meus silêncios mal interpretados pelos outros; das desconsiderações que me sentia alvo; dos encontros 'mágicos' que pedira à vida e que ela tinha tido a ousadia de me dar, donde eu agora não sabia o que fazer com aquilo; dum telefonema para encontro que me prometeram e não cumpriram; duma ida à praia em que dormi enquanto todos os outros falavam; do 'p'ó caralho' que textei; do site de engate.. A Sombra, no seu esplendor. O meu 'eu' no e do momento.
A sorte é que, em mim, o juízo de moralidade mora ao lado! A culpa não.. infelizmente. Por isso me desafiei a dar voz à puta da gaja, a Sombra. E tenho-o feito pouco, aqui.
(Agora que começo a ser lido, e depois de ter sido recomendado, sinto-me ainda mais exposto. Não faço disto 'bicha de sete cabeças' - esta bicha só te uma, duas vá! - mas mói. Quem me ler terá que ser compreensivo. Ou livre de não me ler!)
Estava eu no meu relato intermitente dos 'pequenos nadas' que saiam muito a custo, apodera-se de mim uma sensação física. Tinha sido precedida duma outra que me assegurava tenuamente de que tinha tomado o caminho certo na sessão: preterido o discurso racional e aventurado no inconstante emocional.
Fechei os olhos, em automático.
A sensação era de fondue de queijo, como se o meu corpo fosse comprimido do seu tamanho para dentro, mais pequeno e compacto, e deixasse fios de queijo no caminho. Esse 'mais compacto' assumiu duas formas que se alternavam: feijão e crisálida de libélula. Alternavam e rodavam em eixo, qual galáxia. Ficou assim um tempo. Depois saiu de mim, em bébé, aninhado numa flor de lótus, com o caule a ficar para trás. Embarcou num túnel cósmico e saiu num céu azul, que deu lugar ao espaço sideral. Lá ia a criancinha toda contente no seu colchão de lótus quando, de repente, em vez de se direccionar à luz (como intimamente desejava e esperava) entrou num espaço negro, viscoso, qual petróleo. Nisto, para minha estranheza, também esse escuro começa a girar e regresso à sensação de corpo. Sinto de novo o meu olhar, se bem que ainda de olhos fechados. Sinto do negro da imagem o negro por detrás das pálpebras, desta feita com fumo, também ele em giratório. E já sinto o corpo.
Abro os olhos, voluntariamente..
Sensação de 'cenas dos próximos capítulos'. Viagem iniciada, que continuará.
Demoro bastante a regressar à funções físicas de equilíbrio.
A Sombra em teasing..
Agora que escrevo, apetece-me beijá-la.
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