Sempre me tive como hiper-racional.
Uma vez, em Frankfurt, fui a uma terapeuta alternativa. Uma senhora magra. Alemã, muito para além da nacionalidade. Tem uma casa linda, divisões grandes, branca, espaçosa. Num dos quartos faz a sua função terapêutica. Uma marquesa no centro do quarto, uma secretária a um canto.
Fui lá porque estava frágil. Queria saber mais de mim, das maleitas da Sombra. Acreditava ir aberto, disponível, frágil é a palavra. Disposto a ouvir da generosidade dum outro a quem decidi dar-me. E julgava-me aberto para receber.
Ela fez o seu ritual.
Lembro-me que a páginas tantas as suas mãos começaram a passear pelo ar que rodeava a minha cabeça, em gestos largos, distanciados, sem lhe tocar. Gostava daquilo. Até ela proferir, rispidamente: 'a sua cabeça é enorme'. Senti culpa.
No final da sessão levei um raspanete, em inglês sotaqueado de radioatividade germânica: sou muito mental, a minha cabeça esmaga o meu ser com o pensamento. Fui sentenciado e condenado. Nem me lembro se algum conselho terapêutico surgiu daquilo. Mas lembro-me muito bem do que senti a seguir. Bom.. não logo a seguir.
Como sou muito submisso ao saber dos outros em quem decido acreditar, ouvi-a com lealdade. E senti-me traído. Começou com uma sensação de injustiça, que acatei. E paguei a consulta. Fez-me preço de estudante mas senti que quereria ter cobrado o preço total.
Saí dali. E começou.
A raiva apoderou-se de mim. O D., com quem ia, acabou por sofrer o impacto da minha ira. Verbalizei insultos à senhora, invadido de uma energia avassaladora. Gritei pela rua fora. D. silenciou-se e deixou-me vomitar a voz. Fiquei assim todo o trajecto de volta a casa, primordialmente emocional.
Sou mental? Na realidade, sou emocional. Hiper-emocional. Sombramente emocional.
O que saiu daquela sessão, acredito hoje, foi a Sombra liberta, vingadora da prisão mental que construí, que construo.
Sou muito emocional e, por isso, muito mental. Um emocional que o não sabe ser e que encontrou no seu mental um território interessante para construir uma barragem ao emocional. Fechou a comporta. A emoção acumulou. Os territórios separados, incomunicantes. Emoção tornou-se Sombra. A comporta do pensar cede, de quando em vez à pressão constante do sentir. Não se tocam, evitam-se, fecham os olhos um ao outro. Não negoceiam, não jogam...
Agora que escrevo, faço-o porque descobri, de uma nova maneira, a possibilidade de ser um esquematizador, à la Kant. Um esquematizador não nega a emoção; não nega o pensar, tão pouco. Coloca-os frente a frente, em negociação comuniKant! O jogo é instável. O jogo é criador. Um jogo no espaço interior.
A tendência para o dominio do mental, do esquematizar só por si, do sintetizador excessivo, mantém-se. Mas a consciência tem andado a trabalhar sobre si mesma. O meu espaço interior aumenta e percebo-o melhor.
Sinto-me ético?
Voltarei a este páteo. Até já.
Uma vez, em Frankfurt, fui a uma terapeuta alternativa. Uma senhora magra. Alemã, muito para além da nacionalidade. Tem uma casa linda, divisões grandes, branca, espaçosa. Num dos quartos faz a sua função terapêutica. Uma marquesa no centro do quarto, uma secretária a um canto.
Fui lá porque estava frágil. Queria saber mais de mim, das maleitas da Sombra. Acreditava ir aberto, disponível, frágil é a palavra. Disposto a ouvir da generosidade dum outro a quem decidi dar-me. E julgava-me aberto para receber.
Ela fez o seu ritual.
Lembro-me que a páginas tantas as suas mãos começaram a passear pelo ar que rodeava a minha cabeça, em gestos largos, distanciados, sem lhe tocar. Gostava daquilo. Até ela proferir, rispidamente: 'a sua cabeça é enorme'. Senti culpa.
No final da sessão levei um raspanete, em inglês sotaqueado de radioatividade germânica: sou muito mental, a minha cabeça esmaga o meu ser com o pensamento. Fui sentenciado e condenado. Nem me lembro se algum conselho terapêutico surgiu daquilo. Mas lembro-me muito bem do que senti a seguir. Bom.. não logo a seguir.
Como sou muito submisso ao saber dos outros em quem decido acreditar, ouvi-a com lealdade. E senti-me traído. Começou com uma sensação de injustiça, que acatei. E paguei a consulta. Fez-me preço de estudante mas senti que quereria ter cobrado o preço total.
Saí dali. E começou.
A raiva apoderou-se de mim. O D., com quem ia, acabou por sofrer o impacto da minha ira. Verbalizei insultos à senhora, invadido de uma energia avassaladora. Gritei pela rua fora. D. silenciou-se e deixou-me vomitar a voz. Fiquei assim todo o trajecto de volta a casa, primordialmente emocional.
Sou mental? Na realidade, sou emocional. Hiper-emocional. Sombramente emocional.
O que saiu daquela sessão, acredito hoje, foi a Sombra liberta, vingadora da prisão mental que construí, que construo.
Sou muito emocional e, por isso, muito mental. Um emocional que o não sabe ser e que encontrou no seu mental um território interessante para construir uma barragem ao emocional. Fechou a comporta. A emoção acumulou. Os territórios separados, incomunicantes. Emoção tornou-se Sombra. A comporta do pensar cede, de quando em vez à pressão constante do sentir. Não se tocam, evitam-se, fecham os olhos um ao outro. Não negoceiam, não jogam...
Agora que escrevo, faço-o porque descobri, de uma nova maneira, a possibilidade de ser um esquematizador, à la Kant. Um esquematizador não nega a emoção; não nega o pensar, tão pouco. Coloca-os frente a frente, em negociação comuniKant! O jogo é instável. O jogo é criador. Um jogo no espaço interior.
A tendência para o dominio do mental, do esquematizar só por si, do sintetizador excessivo, mantém-se. Mas a consciência tem andado a trabalhar sobre si mesma. O meu espaço interior aumenta e percebo-o melhor.
Sinto-me ético?
Voltarei a este páteo. Até já.
Sem comentários:
Enviar um comentário