Ai.
quarta-feira, 13 de junho de 2012
domingo, 13 de maio de 2012
Is that so?
Não é altura para conclusões. That much I know and feel. É altura para chegar ao fim, para levar ao término o processo. Não lido com as pessoas no seu estado 'normal'. Lido com as sua Sombras, que já nem disfarçam mostrar a sua cara e atiram copos para o chão a meio dum ensaio técnico. Um copo que, misteriosamente, não se partiu, apesar da violência com que foi atirado.. Nem pediu desculpa. E quando me dirigi a ele e com uma calma surpreendente perguntei: 'está tudo bem?', respondeu: 'são coisas que acontecem', sem sequer me olhar nos olhos.
Tudo aponta para uma travessia negra pelo Mistério. Tem-no sido até aqui. Não sei no que dará, mas a sensação prevalecente é de descrédito, obstrução, resistência, pouco ou nenhuma fé.
É o que sinto nos outros.
Em mim... É mesmo um mistério. Estou calmo, sereno, e ao mesmo tempo, a preparar-me para o pior, que sinto, inexplicavelmente, não irá acontecer. A observar comportamentos que qualquer um diria de não profissionais, e a nível pessoal, desleais, especialmente tendo em conta que em mim, nas circunstâncias de trabalho regular, encontram um gajo que lhes quer dar o máximo que eles puderem receber. Não sei se realmente o faço, se é mais uma ilusão. Mas sinto que lhes dou, essencialmente reforço positivo, entusiasmo, e fé neles próprios.
Fiz questão de lhes dar toda a liberdade no processo. Tiveram muitas horas de trabalho de cena. E no entanto parece que o que foi feito foi vão. Permanecem as dúvidas, as incertezas, as resistências. Esforcei-me por esclarecer tudo quanto me pediam e que não compreendiam no texto, os porquês de determinadas ações que não viam que o próprio texto defendia.
No fim, cai-me nos ombros, proferido já por alguns, que cometi erros. Admito que sim. Mas não me sinto culpado, contrariamente à minha tendência regular de achar que tudo de mal que acontece se deveu a mim e às minhas incapacidades. Sinto que me desacreditei, ou que me desacreditaram, não sei. Sinto que o que digo agora cai totalmente em saco roto. Que é mais produtivo estar calado. Queixaram-se que tiveram informação a mais, que estão confusos. E lembrei-me da história do mestre Zen e da sua pergunta: 'is that so?'. (Mas como eu não sou um mestre Zen pensei: e se tivesses trabalhado mais e colocado questões, e dialogado e feito propostas e procurado resolver as coisas a seu tempo, com interesse, entrega e trabalho? Sabe Deus que não lhes faltou tempo nem oportunidade para isso. Quantas vezes senti que desperdiçavam o tempo, à espera que chegasse a revelação.. E eu a tentar explicar. Mas as minhas explicações não lhes pareciam certas, ou simplesmente não as conseguiam fazer. Duvidavam de tudo o que propunha, ainda que o tentassem fazer. Mas sem fé, quase como se, à priori, descartassem a coisa. No início a tentar compreender. Depois já sem tentar. E ainda me perguntava: será assim tão absurdo pedir que tornem ação, a angústia dum encontro com um ser do outro mundo? a destabilizaçao interior, disfarçada de normalidade? Não fiz uso da autoridade. Estava com medo. Não me impus. Não correspondi à figura de autoridade, de líder. Nivelei-me com eles. Acredito que foi esse parte importante do problema. É precisa muita maturidade e responsabilidade para se trabalhar sem um líder autoritário, digo eu. Mas parece-me que se confundiu autoridade com competência, não sei. Acho que foi isso: sinto que aos seus olhos era um incompetente).
Pediram agora carta branca para trabalhar, sem pensar tanto. Como se nunca a tivessem tido... Concedi mais uma vez.
Eu, que sou um comunicador por natureza, falhei na comunicação. Algures no processo aconteceu um distanciamento terrível. E, no entanto, como me esforcei para os ouvir, as suas críticas e sugestões, e como aceitei muitas delas e ouvi simplesmente as outras.
Acho que só o tempo poderá esclarecer o que agora se vive com emoções fortes.
Há uma vontade de fazer, isso é claro. De acabar. De despachar e passar ao próximo, isto também é claro.
Ando a acordar muito cedo todos os dias. 6h30, 7h, 8h.. Emagreci, coisa espantosa para o meu corpo.
É mesmo um mistério.
Tudo aponta para uma travessia negra pelo Mistério. Tem-no sido até aqui. Não sei no que dará, mas a sensação prevalecente é de descrédito, obstrução, resistência, pouco ou nenhuma fé.
É o que sinto nos outros.
Em mim... É mesmo um mistério. Estou calmo, sereno, e ao mesmo tempo, a preparar-me para o pior, que sinto, inexplicavelmente, não irá acontecer. A observar comportamentos que qualquer um diria de não profissionais, e a nível pessoal, desleais, especialmente tendo em conta que em mim, nas circunstâncias de trabalho regular, encontram um gajo que lhes quer dar o máximo que eles puderem receber. Não sei se realmente o faço, se é mais uma ilusão. Mas sinto que lhes dou, essencialmente reforço positivo, entusiasmo, e fé neles próprios.
Fiz questão de lhes dar toda a liberdade no processo. Tiveram muitas horas de trabalho de cena. E no entanto parece que o que foi feito foi vão. Permanecem as dúvidas, as incertezas, as resistências. Esforcei-me por esclarecer tudo quanto me pediam e que não compreendiam no texto, os porquês de determinadas ações que não viam que o próprio texto defendia.
No fim, cai-me nos ombros, proferido já por alguns, que cometi erros. Admito que sim. Mas não me sinto culpado, contrariamente à minha tendência regular de achar que tudo de mal que acontece se deveu a mim e às minhas incapacidades. Sinto que me desacreditei, ou que me desacreditaram, não sei. Sinto que o que digo agora cai totalmente em saco roto. Que é mais produtivo estar calado. Queixaram-se que tiveram informação a mais, que estão confusos. E lembrei-me da história do mestre Zen e da sua pergunta: 'is that so?'. (Mas como eu não sou um mestre Zen pensei: e se tivesses trabalhado mais e colocado questões, e dialogado e feito propostas e procurado resolver as coisas a seu tempo, com interesse, entrega e trabalho? Sabe Deus que não lhes faltou tempo nem oportunidade para isso. Quantas vezes senti que desperdiçavam o tempo, à espera que chegasse a revelação.. E eu a tentar explicar. Mas as minhas explicações não lhes pareciam certas, ou simplesmente não as conseguiam fazer. Duvidavam de tudo o que propunha, ainda que o tentassem fazer. Mas sem fé, quase como se, à priori, descartassem a coisa. No início a tentar compreender. Depois já sem tentar. E ainda me perguntava: será assim tão absurdo pedir que tornem ação, a angústia dum encontro com um ser do outro mundo? a destabilizaçao interior, disfarçada de normalidade? Não fiz uso da autoridade. Estava com medo. Não me impus. Não correspondi à figura de autoridade, de líder. Nivelei-me com eles. Acredito que foi esse parte importante do problema. É precisa muita maturidade e responsabilidade para se trabalhar sem um líder autoritário, digo eu. Mas parece-me que se confundiu autoridade com competência, não sei. Acho que foi isso: sinto que aos seus olhos era um incompetente).
Pediram agora carta branca para trabalhar, sem pensar tanto. Como se nunca a tivessem tido... Concedi mais uma vez.
Eu, que sou um comunicador por natureza, falhei na comunicação. Algures no processo aconteceu um distanciamento terrível. E, no entanto, como me esforcei para os ouvir, as suas críticas e sugestões, e como aceitei muitas delas e ouvi simplesmente as outras.
Acho que só o tempo poderá esclarecer o que agora se vive com emoções fortes.
Há uma vontade de fazer, isso é claro. De acabar. De despachar e passar ao próximo, isto também é claro.
Ando a acordar muito cedo todos os dias. 6h30, 7h, 8h.. Emagreci, coisa espantosa para o meu corpo.
É mesmo um mistério.
terça-feira, 8 de maio de 2012
Da ilusão.
Adoro Ilusões. E, como diz o meu pai, 'quem se ilude, desilude-se'. Mais um facto que exemplifica a dicotomia da realidade ilusória em que dizem que vivemos, e na qual acredito, como fascinado por ela que sou.
O meu cérebro diverte-se imenso com o exercício da ilusão, como uma criança. E, contudo, o 'adulto' racional corta-lhe as vazas. Resultado: caos. E não em refiro ao criativo, ou pré-criativo, mas à desordem, ponto.
As minhas faculdades percetivas ficam toldadas e 'ai Jesus que lá vou eu' para o reino do pânico, com sintomatologia física, bem material.
No meio de todas estas repetições há uma revolução: estou a conseguir sair do pânico, permanecendo nele muito menos tempo que outrora.
O último exemplo foi sábado passado: ensaio corrido calamitoso. Tudo a correr mal: tempo demasiado lento, mudanças de cena disrutoras da sequência, questões técnicas empecilhantes, the whole shabang!
A noite de sábado foi de atirar da ponte. Felizmente o ZM veio em meu auxílio. Permaneci calado a maior parte do tempo com a cabeça panicada que nem elefante a ver um rato! Ele lá fez o esforço da compreensão da minha situação, apesar de não considerar que a coisa se justificava!
Dormi. Dia seguinte, 6am, ploft! fora da cama. Re-encenei a peça que enésima vez na minha cabeça, já cansado de o fazer. Por muito que antecipe o trabalho, ele será sempre o que o momento quiser. Esta questão entre planificação e o momento, como sempre, a ditar o padrão dicotómico existencial. Já ciente disto, não me forcei a planear muito: fiz um desenho rápido e fui curtir o sol e o dia! E, para meu próprio espanto, consegui, genuinamente, aproveitar o sol e o mar. Tive inclusivé um momento bem especial na praia do Senhor do Rocha, onde permiti que as emoções saíssem, chorei em agradecimento do muito que tenho, do privilegiado que sou. O índio que tocava flautas com acompanhamento gravado ajudou muitíssimo. O ambiente sonoro da praia acariciou a minha alma, e a minha mente, permitindo que esta relaxasse, se abrisse, e saísse a emoção contida, com a sensação de limpeza que se lhe seguiu. Depois deste momento, um longo passeio pela praia, com o vento a massajar a cabeça e o sol, o corpo. Bliss!
A meio da tarde voltei a sentir o pânico: como se 'alguém' o estivesse a mencionar, numa conversa com outrém. Uma conversa sobre os erros do meu trabalho e o perigo de não os saber corrigir. A emoção foi, de novo, enorme. Mas também passou, dando lugar a tranquilidade.
Ora, há uns anos atrás, cinco para ser mais preciso, nunca conseguia sair do estado de pânico. Aí permanecia de dia para dia, em comportamentos destrutivos, de tão compulsivos. Não é que agora não os tenha, que eles ainda dão sinal da sua presença, só que em muito menor grau de manifestação.
Ontem, o meu amigo M, foi ao ensaio, e contribuiu com uma ideia genial. Apliquei-a de imediato. Resultou de imediato.
O meu ego barafustou, mas a minha mente agradeceu, e o meu coração acima de tudo! Como estou muito toldado da perceção, e lento em perspetivar com inteligência emocional, aceitei aquela dádiva, tão preciosa de generosa. Aceitei. E soube-me tão bem, o aceitar, o render-me ao facto de que precisava de ajuda: ela apareceu e aceitei. Mais tarde pensei: já tantas vezes fiz isto por outros, foi agora a vez de o fazerem por mim. Fiquei muito grato, mas mais importante, feliz.
Sorrio, agora, que escrevo isto. O meu coração fala verdade!
A Sombra clareou. Vou gozar o momento!
O meu cérebro diverte-se imenso com o exercício da ilusão, como uma criança. E, contudo, o 'adulto' racional corta-lhe as vazas. Resultado: caos. E não em refiro ao criativo, ou pré-criativo, mas à desordem, ponto.
As minhas faculdades percetivas ficam toldadas e 'ai Jesus que lá vou eu' para o reino do pânico, com sintomatologia física, bem material.
No meio de todas estas repetições há uma revolução: estou a conseguir sair do pânico, permanecendo nele muito menos tempo que outrora.
O último exemplo foi sábado passado: ensaio corrido calamitoso. Tudo a correr mal: tempo demasiado lento, mudanças de cena disrutoras da sequência, questões técnicas empecilhantes, the whole shabang!
A noite de sábado foi de atirar da ponte. Felizmente o ZM veio em meu auxílio. Permaneci calado a maior parte do tempo com a cabeça panicada que nem elefante a ver um rato! Ele lá fez o esforço da compreensão da minha situação, apesar de não considerar que a coisa se justificava!
Dormi. Dia seguinte, 6am, ploft! fora da cama. Re-encenei a peça que enésima vez na minha cabeça, já cansado de o fazer. Por muito que antecipe o trabalho, ele será sempre o que o momento quiser. Esta questão entre planificação e o momento, como sempre, a ditar o padrão dicotómico existencial. Já ciente disto, não me forcei a planear muito: fiz um desenho rápido e fui curtir o sol e o dia! E, para meu próprio espanto, consegui, genuinamente, aproveitar o sol e o mar. Tive inclusivé um momento bem especial na praia do Senhor do Rocha, onde permiti que as emoções saíssem, chorei em agradecimento do muito que tenho, do privilegiado que sou. O índio que tocava flautas com acompanhamento gravado ajudou muitíssimo. O ambiente sonoro da praia acariciou a minha alma, e a minha mente, permitindo que esta relaxasse, se abrisse, e saísse a emoção contida, com a sensação de limpeza que se lhe seguiu. Depois deste momento, um longo passeio pela praia, com o vento a massajar a cabeça e o sol, o corpo. Bliss!
A meio da tarde voltei a sentir o pânico: como se 'alguém' o estivesse a mencionar, numa conversa com outrém. Uma conversa sobre os erros do meu trabalho e o perigo de não os saber corrigir. A emoção foi, de novo, enorme. Mas também passou, dando lugar a tranquilidade.
Ora, há uns anos atrás, cinco para ser mais preciso, nunca conseguia sair do estado de pânico. Aí permanecia de dia para dia, em comportamentos destrutivos, de tão compulsivos. Não é que agora não os tenha, que eles ainda dão sinal da sua presença, só que em muito menor grau de manifestação.
Ontem, o meu amigo M, foi ao ensaio, e contribuiu com uma ideia genial. Apliquei-a de imediato. Resultou de imediato.
O meu ego barafustou, mas a minha mente agradeceu, e o meu coração acima de tudo! Como estou muito toldado da perceção, e lento em perspetivar com inteligência emocional, aceitei aquela dádiva, tão preciosa de generosa. Aceitei. E soube-me tão bem, o aceitar, o render-me ao facto de que precisava de ajuda: ela apareceu e aceitei. Mais tarde pensei: já tantas vezes fiz isto por outros, foi agora a vez de o fazerem por mim. Fiquei muito grato, mas mais importante, feliz.
Sorrio, agora, que escrevo isto. O meu coração fala verdade!
A Sombra clareou. Vou gozar o momento!
quinta-feira, 19 de abril de 2012
Mistério
Como poderia uma peça de teatro ser sobre o Mistério, sem Ele estar presente na sua produção?
A Sombra, agora, tomou conta de mim.
Se Mistério é o gatilho para mudança também o é a Sombra.
Never losses, always blessings.
Metade do elenco chamado a outro lado. Medo. Reação de defesa. Razão e reclamação. Bom senso e instabilidade emocional.
A metade que ficou, era a metade que precisava mais do tempo de Mistério. Estamos a vivê-lo. Em suma, em mistério, o Mistério a decidir. Eu de arrasto.
O que poderia ser - na minha mente foi-o - a traição e o colapço, revelou-se panaceico. Intuo que fundamental.
Never losses, always blessings.
Mudança. Sentir. Ver de cima, sentir em baixo.
Saber o correto, escolher o erro. E a Sombra a gostar.
O símbolo que prevalece. A acusação por outros à sua existência. A minha dúvida: desmorono-me com tão pouco.
Mantenho-me fiel? Fiel ao risco? Fiel ao Mistério?
O Universo de todas as oportunidades...
Batido de Alma.
Corpo energético intervencionado pelo ouvido direito. Velas.
O vazio momentâneo, a sua imensa recompensa.
Do Sopro de vida, ao verbo.
Batido de Mente.
Never losses, always blessings. Blessings. Blessings. Blessings...
A Sombra, agora, tomou conta de mim.
Se Mistério é o gatilho para mudança também o é a Sombra.
Never losses, always blessings.
Metade do elenco chamado a outro lado. Medo. Reação de defesa. Razão e reclamação. Bom senso e instabilidade emocional.
A metade que ficou, era a metade que precisava mais do tempo de Mistério. Estamos a vivê-lo. Em suma, em mistério, o Mistério a decidir. Eu de arrasto.
O que poderia ser - na minha mente foi-o - a traição e o colapço, revelou-se panaceico. Intuo que fundamental.
Never losses, always blessings.
Mudança. Sentir. Ver de cima, sentir em baixo.
Saber o correto, escolher o erro. E a Sombra a gostar.
O símbolo que prevalece. A acusação por outros à sua existência. A minha dúvida: desmorono-me com tão pouco.
Mantenho-me fiel? Fiel ao risco? Fiel ao Mistério?
O Universo de todas as oportunidades...
Batido de Alma.
Corpo energético intervencionado pelo ouvido direito. Velas.
O vazio momentâneo, a sua imensa recompensa.
Do Sopro de vida, ao verbo.
Batido de Mente.
Never losses, always blessings. Blessings. Blessings. Blessings...
sábado, 14 de abril de 2012
Semana um.
Passou.
Objetivamente, com muita produtividade.
Subjetivamente, com muito trabalho interior, sobre a fragilidade, a capacidade, a comunicação, a assertividade, a dúvida, a imaginação à solta - em associações livres - trazida à terra pela intransigência da coerência, o foco.
Dei por mim menos ligado às palavras e mais à compreensão das ações possíveis emergidas do impulso criativo dos outros. Estranhei-me. Estranho-me.
Esforço-me por me adequar ao tempo dos outros, bem mais lento que o meu. Travam-me, mas isso não é ineficaz. Pacientar-me, pace myself. Dar espaço ao Tempo.
Ainda não me sinto em posse da legitimidade da função, mas legitimo-me ao assumi-la.
Mais palavras, nesta fase, seriam demais.
O foco exige silêncio?...
Keep going.
Objetivamente, com muita produtividade.
Subjetivamente, com muito trabalho interior, sobre a fragilidade, a capacidade, a comunicação, a assertividade, a dúvida, a imaginação à solta - em associações livres - trazida à terra pela intransigência da coerência, o foco.
Dei por mim menos ligado às palavras e mais à compreensão das ações possíveis emergidas do impulso criativo dos outros. Estranhei-me. Estranho-me.
Esforço-me por me adequar ao tempo dos outros, bem mais lento que o meu. Travam-me, mas isso não é ineficaz. Pacientar-me, pace myself. Dar espaço ao Tempo.
Ainda não me sinto em posse da legitimidade da função, mas legitimo-me ao assumi-la.
Mais palavras, nesta fase, seriam demais.
O foco exige silêncio?...
Keep going.
sábado, 31 de março de 2012
Here we go again.
Ontem, na cama, prestes a cobrir-me com o edredon, porta do quarto aberta, luzes prestes a deixarem-me na escuridão na casa, senti a nuvem negra, estilo vapor negro, a entrar no quarto. Mesmo antes de apagar a luz da cabeceira senti-a em forma de cabeça a segredar-me ao ouvido. Não entendi o que disse. Mas soube o que tinha de lhe dizer: 'faz favor de ir embora, não és bem-vinda, xô!'
Apaguei a luz e continuei a senti-la. Nisto vem um barulho da sala. Pensei que o mac tinha caído ao chão. Levantei-me e fui ver o que se passara. Não tinha sido o mac. Foi um pacote de leite, vazio, que estava em cima da bancada da cozinha que caíra ao chão. Peguei nele e recoloquei-o na bancada.
Regressei ao quarto. Fechei a porta. Deitei-me, apaguei a luz. E o vapor negro entrou-me pela nuca e eu sabia que o faria. Defendi-me com o 'Raku' que o D. me ensinou. Mas fui sentindo a cabeça a ficar cada vez mais pesada. Até que adormeci.
Tive um pesadelo: sonhei que a encenação que estava a fazer era impossível de realizar: era debaixo de água e usava um submarino. Não conseguia mobilizar ninguém a trabalhar e todos estavam passivos e contrariados. Senti o falhanço total, que não iria conseguir estrear. E uma imensa e terrível solidão, impotente.
Daqui a uma semana começo ensaios duma encenação que farei. Até agora tudo corre maravilhosamente, na fase preparatória. Mas o medo reinstalou-se, como a nuvem negra. Há cinco anos que não faço nenhum trabalho de encenação.
Ontem de tarde, enquanto reunia com o compositor do espetáculo (ainda não contratado..) - reunião que correu maravilhosamente - em vez de dizer 'fui convidado', saiu-me 'fui condenado'.
No texto para divulgação que escrevi, falei extensivamente da oportunidade do mistério.. O Mistério, cuja mera presença, a muitos invisivel de início, obriga as personagens a lidar com os seus medos, com as suas sombras. A resistência à transformação, o medo da mudança, do sair da normalidade..
Estou diante da oportunidade: de revisitar as sombras que encerro em mim, os medos antigos, por resolver. Eu sou uma personagem da peça que vou encenar..
Como todos dizemos com leveza: há que aproveitar as oportunidades e não deixá-las fugir ou perder. Eis a minha oportunidade. Vou matá-la, como fazem as personagens na peça? Ou abraçá-la e arriscar ser algo novo?
A vida está comigo, sinto-o.
Here we go again.
(agora, que releio este texto, lembrei-me que a peça começa com um copo de leite derramado... e foi o pacote de leite que caiu ao chão, sozinho, ontem à noite...)
Apaguei a luz e continuei a senti-la. Nisto vem um barulho da sala. Pensei que o mac tinha caído ao chão. Levantei-me e fui ver o que se passara. Não tinha sido o mac. Foi um pacote de leite, vazio, que estava em cima da bancada da cozinha que caíra ao chão. Peguei nele e recoloquei-o na bancada.
Regressei ao quarto. Fechei a porta. Deitei-me, apaguei a luz. E o vapor negro entrou-me pela nuca e eu sabia que o faria. Defendi-me com o 'Raku' que o D. me ensinou. Mas fui sentindo a cabeça a ficar cada vez mais pesada. Até que adormeci.
Tive um pesadelo: sonhei que a encenação que estava a fazer era impossível de realizar: era debaixo de água e usava um submarino. Não conseguia mobilizar ninguém a trabalhar e todos estavam passivos e contrariados. Senti o falhanço total, que não iria conseguir estrear. E uma imensa e terrível solidão, impotente.
Daqui a uma semana começo ensaios duma encenação que farei. Até agora tudo corre maravilhosamente, na fase preparatória. Mas o medo reinstalou-se, como a nuvem negra. Há cinco anos que não faço nenhum trabalho de encenação.
Ontem de tarde, enquanto reunia com o compositor do espetáculo (ainda não contratado..) - reunião que correu maravilhosamente - em vez de dizer 'fui convidado', saiu-me 'fui condenado'.
No texto para divulgação que escrevi, falei extensivamente da oportunidade do mistério.. O Mistério, cuja mera presença, a muitos invisivel de início, obriga as personagens a lidar com os seus medos, com as suas sombras. A resistência à transformação, o medo da mudança, do sair da normalidade..
Estou diante da oportunidade: de revisitar as sombras que encerro em mim, os medos antigos, por resolver. Eu sou uma personagem da peça que vou encenar..
Como todos dizemos com leveza: há que aproveitar as oportunidades e não deixá-las fugir ou perder. Eis a minha oportunidade. Vou matá-la, como fazem as personagens na peça? Ou abraçá-la e arriscar ser algo novo?
A vida está comigo, sinto-o.
Here we go again.
(agora, que releio este texto, lembrei-me que a peça começa com um copo de leite derramado... e foi o pacote de leite que caiu ao chão, sozinho, ontem à noite...)
terça-feira, 27 de março de 2012
Teatro?..
Hoje é o dia mundial dele. Trabalho nele quase todos os dias. Hoje, muitos o celebram. E eu dei por mim vazio na vontade de o celebrar. Deu-me o que pensar.
Que sinto eu pelo Teatro? E não é que não sei!
Gosto das palavras dele. Gosto da luz nele, dos corpos, dos jogos, dos símbolos, dos sons, da música, das metáforas.. Gosto da imersão no paralelo da realidade que proporciona.
Não o gosto panfletário, impositivo, revolucionário.
Gosto da forma como organiza o espaço: palco, plateia; da quarta parede, outro lado do espelho.
Gosto da convenção a que nos obriga, tácita. Gosto que a dite, clara.
Gosto quando é claro, preciso, literal e depois nos apanha desprevenidos nas curvas de poesia cénica.
E o engraçado é que estes 'gostos' cabem no teatro que gosto e no que não gosto.
Até aos 26 anos era um deslumbrado pelo teatro. Depois fui secando o deslumbre, à medida que aprofundava o métier.
Hoje é o que faço. Mais pelo teatro do outros que pelo meu.
Experimentei algumas vezes o meu teatro e abandonei-o cinco anos.
Este ano regresso a ele. (Pre)Sinto-o mais definido. Ainda não sei.
Mas o meu teatro é o da minha cabeça. Sei muito pouco de teatro, portanto.
Não sinto vontade de celebrar este dia.
E amanhã continuarei a cumpri-lo.
Que sinto eu pelo Teatro? E não é que não sei!
Gosto das palavras dele. Gosto da luz nele, dos corpos, dos jogos, dos símbolos, dos sons, da música, das metáforas.. Gosto da imersão no paralelo da realidade que proporciona.
Não o gosto panfletário, impositivo, revolucionário.
Gosto da forma como organiza o espaço: palco, plateia; da quarta parede, outro lado do espelho.
Gosto da convenção a que nos obriga, tácita. Gosto que a dite, clara.
Gosto quando é claro, preciso, literal e depois nos apanha desprevenidos nas curvas de poesia cénica.
E o engraçado é que estes 'gostos' cabem no teatro que gosto e no que não gosto.
Até aos 26 anos era um deslumbrado pelo teatro. Depois fui secando o deslumbre, à medida que aprofundava o métier.
Hoje é o que faço. Mais pelo teatro do outros que pelo meu.
Experimentei algumas vezes o meu teatro e abandonei-o cinco anos.
Este ano regresso a ele. (Pre)Sinto-o mais definido. Ainda não sei.
Mas o meu teatro é o da minha cabeça. Sei muito pouco de teatro, portanto.
Não sinto vontade de celebrar este dia.
E amanhã continuarei a cumpri-lo.
domingo, 25 de março de 2012
Dos tempos que correm.
Quem mais anda a sentir downloads no seu corpo? Downloads literais, como os que fazem aos computadores. Informação nova, complementar à existente. Updates de informação nas células, nos tecidos, no corpo, caramba! Com o cansaço que se lhes segue...
Não me impedem a produtividade.. quer dizer, atrapalham imenso, que só sinto a energia a esvair-se de mim no arrastar-me por entre as horas. Mas não deixo de fazer o que era suposto. Até dá tempo para umas sestas imperativas. É que se não descanso parece que acabarei por adormecer em qualquer esquina de rua por onde esteja a passar, como aquela vontade repentina de ir à casa de banho que nos obriga a entrar no primeiro café que se vê... Assim corro para o quarto, corro as persianas, acendo duas velas e caio na cama, a dormir.
Na realidade só fiz isto duas vezes. Mas apeteceu-me fazer muitas mais.
Os papos no olhos são gritantes. E claro, é inevitável pensar em ir ao médico. Já fui a uma osteopata, com quem me dei muito bem e tenciono voltar mais vezes. A pessoa certa no sítio certo. Quantas vezes o desejei, sem conseguir? Pois agora está fácil!
O tempo está apressado sobre si mesmo? Estaremos em fast-forward? Ou será a sensação de download a provocá-la? Que isto do tempo não é de se fiar...
O tempo.. se calhar são tempos do tempo. Tempos que correm no tempo que é. Seremos nós, feitos tempo, a correr no tempo?
Correr sim, mas não há propriamente pressa.. O que é estranho. Não é pressa dentro do tempo que corre. É o próprio tempo que mudou, parecendo correr, mas só por comparação ao tempo antigo. O tempo novo é calmo, sem pressa. Mas é novo, com um novo tempo. Enquanto nos ajustamos, o tempo parece estar a correr, mas está no tempo certo do seu ser. Nós é que ainda não... por enquanto.... Como quando estamos prestes a pisar uma escada rolante, naquele momento em que saímos do tempo do nosso andar para o tempo da escada rolante...
Tempo paralelos, em existências paralelas, que se tocam. Nesse ato de contato estamos nós? Nesse tempo de dois tempos?
Se sim, não admira então a canseira...
Não me impedem a produtividade.. quer dizer, atrapalham imenso, que só sinto a energia a esvair-se de mim no arrastar-me por entre as horas. Mas não deixo de fazer o que era suposto. Até dá tempo para umas sestas imperativas. É que se não descanso parece que acabarei por adormecer em qualquer esquina de rua por onde esteja a passar, como aquela vontade repentina de ir à casa de banho que nos obriga a entrar no primeiro café que se vê... Assim corro para o quarto, corro as persianas, acendo duas velas e caio na cama, a dormir.
Na realidade só fiz isto duas vezes. Mas apeteceu-me fazer muitas mais.
Os papos no olhos são gritantes. E claro, é inevitável pensar em ir ao médico. Já fui a uma osteopata, com quem me dei muito bem e tenciono voltar mais vezes. A pessoa certa no sítio certo. Quantas vezes o desejei, sem conseguir? Pois agora está fácil!
O tempo está apressado sobre si mesmo? Estaremos em fast-forward? Ou será a sensação de download a provocá-la? Que isto do tempo não é de se fiar...
O tempo.. se calhar são tempos do tempo. Tempos que correm no tempo que é. Seremos nós, feitos tempo, a correr no tempo?
Correr sim, mas não há propriamente pressa.. O que é estranho. Não é pressa dentro do tempo que corre. É o próprio tempo que mudou, parecendo correr, mas só por comparação ao tempo antigo. O tempo novo é calmo, sem pressa. Mas é novo, com um novo tempo. Enquanto nos ajustamos, o tempo parece estar a correr, mas está no tempo certo do seu ser. Nós é que ainda não... por enquanto.... Como quando estamos prestes a pisar uma escada rolante, naquele momento em que saímos do tempo do nosso andar para o tempo da escada rolante...
Tempo paralelos, em existências paralelas, que se tocam. Nesse ato de contato estamos nós? Nesse tempo de dois tempos?
Se sim, não admira então a canseira...
terça-feira, 20 de março de 2012
Regeneração.
Há dias
rasguei indicador e dedo médio
da mão direita
na ombreira da porta
por ter lhe calculado mal a largura
enquanto levava o cesto grande
com a roupa molhada
acabada de tirar da máquina de lavar
para a estender a secar.
Ia alterado da consciência. A dor recuperou-ma. Sangrei um bocadinho.
Tenho vindo a reparar na cicatrização. Diária.
O meu corpo, no início, ainda com a dor, exigiu-me atenção. Depois tornou-se silencioso.
Regenera sem me incomodar. O meu corpo trata de si sem me incomodar.
Por que raio então o incomodo tanto com o meu pensar?
rasguei indicador e dedo médio
da mão direita
na ombreira da porta
por ter lhe calculado mal a largura
enquanto levava o cesto grande
com a roupa molhada
acabada de tirar da máquina de lavar
para a estender a secar.
Ia alterado da consciência. A dor recuperou-ma. Sangrei um bocadinho.
Tenho vindo a reparar na cicatrização. Diária.
O meu corpo, no início, ainda com a dor, exigiu-me atenção. Depois tornou-se silencioso.
Regenera sem me incomodar. O meu corpo trata de si sem me incomodar.
Por que raio então o incomodo tanto com o meu pensar?
Montra.
Ontem. Zona baixa da rua do Carmo, junto ao Rossio. Inicio da tarde. Conversa com ZM. Montra de loja.
A perceção, pela periferia do meu lado esquerdo, tomou-a por montra de antiquário com a figura de Cristo, em tamanho natural, exposta. A figura, corpo de Jesus, icónico, cabelos longos. Uma sensação de impactação meio assustada fez-se sentir no meus corpo, mas dei pouca importância à coisa, que parecia normal. Ainda assim, foi inevitável o olhar melhor, que o arrepio falou mais alto.
De frente, com atenção consciente: sombra duma trave (que lembrava cabelo comprido), na cabeça do manequim, cinzento escuro, de loja de roupa, com uma caveira na tshirt.
A Sombra a fazer-me ver na sombra...
A perceção, pela periferia do meu lado esquerdo, tomou-a por montra de antiquário com a figura de Cristo, em tamanho natural, exposta. A figura, corpo de Jesus, icónico, cabelos longos. Uma sensação de impactação meio assustada fez-se sentir no meus corpo, mas dei pouca importância à coisa, que parecia normal. Ainda assim, foi inevitável o olhar melhor, que o arrepio falou mais alto.
De frente, com atenção consciente: sombra duma trave (que lembrava cabelo comprido), na cabeça do manequim, cinzento escuro, de loja de roupa, com uma caveira na tshirt.
A Sombra a fazer-me ver na sombra...
sexta-feira, 16 de março de 2012
Esquematizador de emoções.
Sempre me tive como hiper-racional.
Uma vez, em Frankfurt, fui a uma terapeuta alternativa. Uma senhora magra. Alemã, muito para além da nacionalidade. Tem uma casa linda, divisões grandes, branca, espaçosa. Num dos quartos faz a sua função terapêutica. Uma marquesa no centro do quarto, uma secretária a um canto.
Fui lá porque estava frágil. Queria saber mais de mim, das maleitas da Sombra. Acreditava ir aberto, disponível, frágil é a palavra. Disposto a ouvir da generosidade dum outro a quem decidi dar-me. E julgava-me aberto para receber.
Ela fez o seu ritual.
Lembro-me que a páginas tantas as suas mãos começaram a passear pelo ar que rodeava a minha cabeça, em gestos largos, distanciados, sem lhe tocar. Gostava daquilo. Até ela proferir, rispidamente: 'a sua cabeça é enorme'. Senti culpa.
No final da sessão levei um raspanete, em inglês sotaqueado de radioatividade germânica: sou muito mental, a minha cabeça esmaga o meu ser com o pensamento. Fui sentenciado e condenado. Nem me lembro se algum conselho terapêutico surgiu daquilo. Mas lembro-me muito bem do que senti a seguir. Bom.. não logo a seguir.
Como sou muito submisso ao saber dos outros em quem decido acreditar, ouvi-a com lealdade. E senti-me traído. Começou com uma sensação de injustiça, que acatei. E paguei a consulta. Fez-me preço de estudante mas senti que quereria ter cobrado o preço total.
Saí dali. E começou.
A raiva apoderou-se de mim. O D., com quem ia, acabou por sofrer o impacto da minha ira. Verbalizei insultos à senhora, invadido de uma energia avassaladora. Gritei pela rua fora. D. silenciou-se e deixou-me vomitar a voz. Fiquei assim todo o trajecto de volta a casa, primordialmente emocional.
Sou mental? Na realidade, sou emocional. Hiper-emocional. Sombramente emocional.
O que saiu daquela sessão, acredito hoje, foi a Sombra liberta, vingadora da prisão mental que construí, que construo.
Sou muito emocional e, por isso, muito mental. Um emocional que o não sabe ser e que encontrou no seu mental um território interessante para construir uma barragem ao emocional. Fechou a comporta. A emoção acumulou. Os territórios separados, incomunicantes. Emoção tornou-se Sombra. A comporta do pensar cede, de quando em vez à pressão constante do sentir. Não se tocam, evitam-se, fecham os olhos um ao outro. Não negoceiam, não jogam...
Agora que escrevo, faço-o porque descobri, de uma nova maneira, a possibilidade de ser um esquematizador, à la Kant. Um esquematizador não nega a emoção; não nega o pensar, tão pouco. Coloca-os frente a frente, em negociação comuniKant! O jogo é instável. O jogo é criador. Um jogo no espaço interior.
A tendência para o dominio do mental, do esquematizar só por si, do sintetizador excessivo, mantém-se. Mas a consciência tem andado a trabalhar sobre si mesma. O meu espaço interior aumenta e percebo-o melhor.
Sinto-me ético?
Voltarei a este páteo. Até já.
Uma vez, em Frankfurt, fui a uma terapeuta alternativa. Uma senhora magra. Alemã, muito para além da nacionalidade. Tem uma casa linda, divisões grandes, branca, espaçosa. Num dos quartos faz a sua função terapêutica. Uma marquesa no centro do quarto, uma secretária a um canto.
Fui lá porque estava frágil. Queria saber mais de mim, das maleitas da Sombra. Acreditava ir aberto, disponível, frágil é a palavra. Disposto a ouvir da generosidade dum outro a quem decidi dar-me. E julgava-me aberto para receber.
Ela fez o seu ritual.
Lembro-me que a páginas tantas as suas mãos começaram a passear pelo ar que rodeava a minha cabeça, em gestos largos, distanciados, sem lhe tocar. Gostava daquilo. Até ela proferir, rispidamente: 'a sua cabeça é enorme'. Senti culpa.
No final da sessão levei um raspanete, em inglês sotaqueado de radioatividade germânica: sou muito mental, a minha cabeça esmaga o meu ser com o pensamento. Fui sentenciado e condenado. Nem me lembro se algum conselho terapêutico surgiu daquilo. Mas lembro-me muito bem do que senti a seguir. Bom.. não logo a seguir.
Como sou muito submisso ao saber dos outros em quem decido acreditar, ouvi-a com lealdade. E senti-me traído. Começou com uma sensação de injustiça, que acatei. E paguei a consulta. Fez-me preço de estudante mas senti que quereria ter cobrado o preço total.
Saí dali. E começou.
A raiva apoderou-se de mim. O D., com quem ia, acabou por sofrer o impacto da minha ira. Verbalizei insultos à senhora, invadido de uma energia avassaladora. Gritei pela rua fora. D. silenciou-se e deixou-me vomitar a voz. Fiquei assim todo o trajecto de volta a casa, primordialmente emocional.
Sou mental? Na realidade, sou emocional. Hiper-emocional. Sombramente emocional.
O que saiu daquela sessão, acredito hoje, foi a Sombra liberta, vingadora da prisão mental que construí, que construo.
Sou muito emocional e, por isso, muito mental. Um emocional que o não sabe ser e que encontrou no seu mental um território interessante para construir uma barragem ao emocional. Fechou a comporta. A emoção acumulou. Os territórios separados, incomunicantes. Emoção tornou-se Sombra. A comporta do pensar cede, de quando em vez à pressão constante do sentir. Não se tocam, evitam-se, fecham os olhos um ao outro. Não negoceiam, não jogam...
Agora que escrevo, faço-o porque descobri, de uma nova maneira, a possibilidade de ser um esquematizador, à la Kant. Um esquematizador não nega a emoção; não nega o pensar, tão pouco. Coloca-os frente a frente, em negociação comuniKant! O jogo é instável. O jogo é criador. Um jogo no espaço interior.
A tendência para o dominio do mental, do esquematizar só por si, do sintetizador excessivo, mantém-se. Mas a consciência tem andado a trabalhar sobre si mesma. O meu espaço interior aumenta e percebo-o melhor.
Sinto-me ético?
Voltarei a este páteo. Até já.
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