sábado, 12 de junho de 2010

O miúdo que dava explicações de matemática.

A noite passada, perdi. Porque não sou forte o suficiente para me deixar conduzir pelo tempo. As horas matam-me, como numa canção de Heine que terei de cantar em Julho. Acho que esta batalha com o tempo do amor ainda está no adro. O fantasma omnipresente da rejeição ainda me domina. As instabilidades naturais da vida são-lhe insuportáveis. Se não lhe dão segurança mínima e o que ele quer, assume que não é querido. E mais uma vez, conseguiu que assim fosse.

Da minha perspectiva, estes constantes actos de auto-sabotagem, acabam comigo. Pode ser que o tempo recupere o que se perdeu ontem. Não sei. Do que de mim depende está claro o que precisa ser trabalhado: to go with the flow. Again, isso exige estabilidade do ser. A paixão não ajuda, mas nela se testam os guerreiros. A distância e o contacto espaçado, só pioram. Parte do teste do guerreiro. Chumbei, com o comentário didáctico: és um miúdo.

O que é certo é que acabei por sonhar com ele.

E ali estava: lindo, o miúdo; cinco anos. Com uns olhos verdes. Cabelo escorrido. Olhar doce. Gestos suaves. A explicar o que parecia ser matemática ao outro miúdo: franzino, magro, tímido, muito quieto do outro lado da secretária e um pouco afastado dela, que mal se deixava ver, e que tinha um olhar que parecia saber tudo o que se lhe explicava (ou nada..), mas deixando o outro explicar de qualquer modo. Acho que não era a matemática que ele aprendia. Acho que ele aprendia o miúdo. O miúdo nem se apercebia disso, e continuava, deslumbrante,  generoso, preocupado com o outro, sem o confrontar muito com o seu olhar verde. A cena ficou assim na minha memória, como uma fotografia, a desgastar-se no tempo.

(Eu nunca percebi muito de matemática, apesar de ter sempre as melhores notas. Que explicaria eu, de algo que sei tão pouco?)

O sonho continuou. Lembro-me de meias enterradas na areia e pouco mais. Mas houve mais.



Tenho que continuar a trabalhar para compreender melhor porque panico com a iminência da rejeição, principal tarefa da profilaxia da minha Sombra.

Para conseguir sincronizar-me com o tempo e poder ser um.

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